Papagaios devem ser brinquedos, não armas

25/06/2018 às 20:34.
Atualizado em 10/11/2021 às 00:59


Mesmo em uma era dominada por tecnologias, soltar papagaios (ou pipas) ainda está entre as atividades mais lúdicas e prazerosas da infância. Ironicamente, porém, esse hábito, sobretudo na área urbana, tem se tornado um dos mais perigosos em razão do uso indiscriminado do cerol e das chamadas linhas chilenas, que transformam brinquedos em armas letais.

Passadas nos fios que conduzem as estruturas, misturas de cola, vidro e outros materiais servem para cortar as linhas de outros papagaios. Trata-se de uma competição aérea que gera bons momentos de divertimento a quem a disputa. Mas também causa mortes, ferimentos e sérios danos a veículos e à rede elétrica. 

O problema é crônico na capital, com fase aguda nesta época do ano, na qual imperam ventos e dias ensolarados. Domingo, um entregador de gás, numa moto, morreu degolado por uma dessas linhas em Contagem, na região metropolitana. Foi a terceira vítima do ano no Estado, que, de janeiro a maio, também registrou 16 feridos graves em decorrência de acidentes com cerol e linha chilena –mais da metade da média anual, de 30 casos assim.

A Cemig estima que 200 mil consumidores mineiros ficaram sem energia ao longo de 2018 por acidentes na rede causados por fios de papagaio. Na Grande BH, foram 24 desligamentos de energia desde o início do ano. No dia 15, um helicóptero do Corpo de Bombeiros foi atingido e por pouco não caiu, mas o estrago na aeronave, que permanece fora de operação, deve custar US$ 40 mil aos cofres públicos.

Enquanto vítimas e prejuízos se multiplicam, o poder público concentra-se em campanhas educativas, como a “Cerol mata”, que se repetirá este ano. Também alega que a fiscalização é difícil, já que as linhas podem ser produzidas em casa. As “chilenas”, porém, são encontradas livremente no comércio, sobretudo na Internet.

Autoridades lembram que há uma lei no Estado para coibir a prática, com multa de R$ 1,5 mil e possível prisão do infrator. Mas as estatísticas de acidentes teimam em crescer. Ideal seria que a população compreendesse que pipas devem ser brincadeira saudável, não sinônimo de tragédias. Ou, talvez, fazer como no Oriente, onde quem tem problemas empina papagaios e corta as linhas, para que se percam no céu e levem consigo as aflições. 
 

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