A assinatura do acordo de leniência pela cúpula da construtora Odebrecht é uma ducha de água fria em dezenas de integrantes da classe política brasileira que comemorou a derrubada de algumas medidas anticorrupção nessa terça-feira. Se antes muitos temiam ser pegos por procuradores e promotores, hoje é o sobrenome de uma das famílias mais ricas do Brasil que deve estar tirando o sono de muita gente na capital federal.
Primeiro, vale lembrar o motivo da atitude da empresa. Embora comandada por uma família, a Odebrecht é uma gigante da construção civil. Tem negócios em várias partes do mundo e seus donos querem mantê-los. A empresa está no furacão da crise política e precisa sair disso para não desaparecer. Para continuar existindo, a construtora vai entregar quem tiver que entregar, sem dúvida.
Lembrando que o esquema de corrupção descoberto no Brasil também é investigado nos Estados Unidos. E lá, meus caros, uma multa por má gestão imposta pela Justiça é capaz de falir grandes empresas e seus executivos.
O acordo de leniência, portanto, é como um instinto de sobrevivência, assim como fizeram os parlamentares ao mutilarem o texto do projeto anticorrupção e aprovarem propostas que limitam os poderes de investigadores. Uma atitude que beira o desespero de quem vê o juízo final da carreira política bem próximo.
O que ocorrer com os executivos da Odebrecht certamente também vai incentivar outras organizações investigadas pela Lava Jato a fazer o mesmo – assim ocorreu com a delação premiada. O primeiro beneficiado foi seguido por um monte de gente interessada em reduzir penas.
A população brasileira tem total direito de saber quem são as pessoas ligadas à maior empreiteira do país e de como essa empresa conseguia ter influência nos quatro cantos do país para conquistar contratos. Os envolvidos devem ser punidos pela Justiça, mas também precisam receber a punição da opinião pública, não sendo votados em 2018.
Há muitas listas circulando por aí pelas redes sociais, mas jornalistas de todo o país certamente buscam ter acesso aos nomes ligados à Odebrecht que constam no acordo assinado. A divulgação é questão de tempo. Vale a pena aguardar os próximos dias.