Um pouco tarde para Dilma

29/08/2016 às 20:19.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:36

A presidente afastada Dilma Rousseff não apresentou muitas novidades em sua defesa aos senadores na sessão de julgamento do processo de impeachment. Voltou a falar que não cometeu crime de responsabilidade, que o seu afastamento não passa de golpe, que o processo é uma conspiração das elites contra a gestão petista, que cuida dos mais pobres, e que irá ao Supremo Tribunal federal caso a decisão não seja favorável. 

Um dos (poucos) aspectos que chamou a atenção foi o comportamento de Dilma em relação aos parlamentares. O tom de voz esteve mais baixo, mesmo na resposta a questionamentos feitos com argumentos que a desagradavam. Diferentemente do que era esperado por parte da classe política, Dilma não foi para o confronto escancarado e também não buscou constranger opositores, como no caso do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, seu adversário na última eleição. 

Ficou claro que a presidente tentou desfazer a imagem de comandante dura e inflexível, que até os petistas ajudaram a construir. Ainda esperançosa de contrariar os prognósticos, que indicam a confirmação do impeachment, Dilma sabe que terá que contar com o apoio desses mesmos que a acusam caso consiga virar o jogo nas próximas horas. 

A ida de um presidente ao Legislativo para prestar esclarecimento sobre sua gestão deveria ser bem mais frequente do que apenas em casos extremos, como esse. Mas temos um sistema político baseado na troca de favores entre o Executivo e parlamentares, negociações que por si só bastam para garantir o apoio do Congresso. Já a aprovação de medidas para o bem da população são ignorados na hora de se questionar um gestor. 

Um sistema em que você precisa negociar com 20 ou 30 legendas um apoio é completamente inviável, e uma reforma política é urgente para que menos tempo e recursos sejam gastos nessa negociação. 

A reforma política, com participação da população, foi justamente um compromisso feito Dilma Rousseff caso ela seja mantida. Mas poucos lembram que, em 2013, ela também anunciou alguns pontos da reforma, que não foram pra frente. Os senadores também não foram sensibilizados com a proposta de uma Dilma mais afável e conciliadora. Parece um pouco tarde para ela se fazer ouvir. 
 

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