Ano novo, vida nova

29/12/2016 às 13:54.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:15

Chegamos a 2017! Estamos a nos aproximar mais perto de nós mesmos?

Há uma abissal distância entre o que somos e o que queremos ser. Um apetite de Absoluto e a consciência aguda de nossa finitude. Olhamos para trás: a infância que resta na memória com sabor de paraíso perdido; a adolescência tecida em sonhos e utopias; os propósitos altruístas. 

Agora, nas atuais circunstâncias, a ameaça de desemprego; o salário exíguo em um país tão caro; o (des)governo sem rumo; a sombra de Trump.

Em volta, a violência da paisagem urbana e a nossa dificuldade de conectar efeitos e causas. Como se moradores de rua fossem cogumelos espontâneos e não frutos do darwinismo econômico que segrega a maioria pobre e favorece a minoria abastada. O mesmo executivo que teme sequestro e brada contra bandidos, abastece o crime ao consumir drogas e corromper o poder público.

Ano novo, vida nova. No fundo da garganta, o travo. Vontade de remar contra a corrente e, enquanto tantos celebram a pós-modernidade, pedir colo a Deus e resgatar boas coisas: a oração em família, o amor sem pressa, a leitura dos místicos, o diálogo amigável com os filhos, a solidão entre matas, o gesto solidário capaz de amenizar a dor de um enfermo. 

Reencontrar, no ano que se inicia, a própria humanidade. Despir-se do lobo voraz que, na arena competitiva do mercado, nos faz estranhos a nós mesmos.

Ano novo de incertezas. Olhemos a cidade, o estado, o país. As obras que beneficiam empreiteiras trazem proveito à maioria da população? Melhoram o transporte público, o serviço de saúde, a rede educacional, o saneamento? Nosso bairro tem bom sistema sanitário, as ruas são limpas, há áreas de lazer? Participamos do debate sobre o orçamento municipal? Os políticos em quem votamos têm desempenho satisfatório? No combate à violência, eles remetem às áreas de conflito policiais ou professores?

Em política, tolerância é cumplicidade com maracutaias. Voto é delegação e, na verdadeira democracia, governa o povo através de seus representantes e de mobilizações diretas junto ao poder público. Quanto mais cidadania, mais democracia.

Ano de nova qualidade de vida. De menos ansiedade e mais profundidade. Aceitar a proposta de Jesus a Nicodemos: nascer de novo. Mergulhar em si, abrir espaço à presença do Inefável. Braços e corações abertos também ao semelhante. Recriar-se e apropriar-se da realidade circundante, livre da pasteurização que nos massifica na mediocridade bovina de quem rumina hábitos mesquinhos, como se a vida fosse uma janela da qual contemplamos, noite após noite, a realidade desfilar nos ilusórios devaneios de uma telenovela.

Feliz ano novo a quem se propõe a trocar o lamento pela ação, a queixa pela pressão, o protesto pela proposta. E está disposto a sair de si para organizar a esperança.

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