Avanço da direita, impasse da esquerda

15/12/2017 às 14:32.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:16

Você é capaz de identificar uma pessoa de esquerda? De direita é óbvio: defende a primazia do capital sobre os direitos humanos; o caráter sagrado da propriedade privada; apoia a privatização do patrimônio público; venera o gigantismo dos EUA; apregoa que “bandido bom é bandido morto”; e costuma ser racista, homofóbica e indiferente aos direitos dos mais pobres.Ao longo de 12 anos de governo do PT, a direita se manteve no armário. Não tinha razões para exibir as garras afiadas, já que se beneficiava economicamente (robustez da Bolsa de Valores, isenções tributárias, benesses do BNDES, captação de investimentos estrangeiros etc).

       Bastou a economia brasileira dar sinais de insustentabilidade para a direita sair do armário, decidida a assumir o controle da nação. A exemplo do que ocorrera em Honduras e no Paraguai, armou-se aqui um golpe parlamentar. Destituiu-se uma presidente democraticamente eleita, isenta de qualquer acusação de ter cometido crime, para empossar Temer, acusado de vários  crimes.

       O que me parece estranho é a oposição não ir além dos limites do Congresso. Por que o “Fora Temer” não ganha as ruas? Por que os movimentos sociais, sindicais e estudantis permanecem imobilizados, exceto quando se trata de reivindicações pontuais e corporativas, como ocupações de áreas urbanas e rurais? Onde se enfiou a esquerda brasileira?

       Somos, hoje, uma esquerda envergonhada. A corrupção nos atingiu e abateu a nossa moral. Ficamos calados frente ao ajuste fiscal proposto pelo governo Dilma. Trocamos um projeto de nação por um projeto de poder. Não cuidamos da alfabetização política do nosso povo. Não criamos uma mídia capaz de se contrapor à versão da direita.

       E agora, José? Permanecer no armário e aguardar o resultado das eleições de 2018? Quem garante que os eleitos ao Congresso não serão ainda mais conservadores do que os atuais parlamentares?

       Nós, da esquerda, abandonamos o trabalho de base, a formação de militantes, o enfrentamento ideológico. Sob os escombros do Muro de Berlim ficou soterrado nosso arcabouço teórico. Nunca mais fomos os mesmos. Ao nos afastar da base popular perdemos a vergonha de ser burgueses. Passamos a acreditar que o capitalismo é humanizável, tigre vulnerável a se transformar em gatinho doméstico. Arranha mas não devora...

       Se o nosso arcabouço teórico ficou sob o Muro de Berlim, a razão primeira da existência da esquerda se agigantou, mas nem sempre tivemos olhos para ver a grande horda de marginalizados e excluídos. Porém, o pobretariado não figura em nossas cogitações. Até gostamos de governar para ele, não de manter vínculos orgânicos que deem consistência a uma proposta política transformadora.

       Apesar dessa ausência de povo nas ruas e aparente inércia, algo de novo brota no seio da esquerda brasileira: a Frente Povo Sem Medo (www.vamosmudar.org.br) e a Frente Brasil Popular; além de tantas lutas assumidas por movimentos indígenas, quilombolas, atingidos por barragens, mulheres, LBGTodos etc.

      Sem deixarmos de fazer autocrítica, há que guardar o pessimismo para dias melhores.

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