ILHAS DO TESOURO

22/09/2017 às 17:21.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:41

Nos últimos 30 anos, países periféricos, à exceção da China, transferiram para as nações metropolitanas capitalistas US$ 10,6trilhões, quantia que equivale a cinco vezes o PIB do Brasil.

Isso acaba com o mito de que são os países ricos que investem nos pobres. De fato, ocorre o contrário. A diferença é que a fuga de capitais não chega aos países desenvolvidos como investimento, e sim como mera especulação via paraísos fiscais.

São considerados paraísos fiscais os 48 países e jurisdições listados pelo FMI como centros financeiros offshores. Essa a verdadeira máfia criminosa que drena recursos dos pobres para os ricos e, assim, impede a redução das desigualdades sociais e o aumento da qualidade de vida de bilhões de pessoas.

Nas últimas três décadas, as transferências legais de países pobres para os ricos somam US$ 1,1 trilhão. As sem registro, US$ 10,6 trilhões, dos quais US$ 7 trilhões saíram por meios ilegais.

Em 2011, habitantes de países periféricos tinham, em paraísos fiscais, US$ 4,4 trilhões! Dinheiro que o fisco não recolheu, a economia local não recebeu, e do qual a população não se beneficiou.

Os paraísos fiscais recebem fluxos financeiros de criminosos via corrupção, evasão fiscal e comercial, sonegação etc. Dados de 2014 indicam que, naquele ano, eles alojaram, em bilhões de dólares, US$ 505 do tráfico de drogas; US$ 109 do tráfico de pessoas; US$ 1,3 do comércio de órgãos humanos; e outros valores elevados advindos do contrabando de pesca, madeira (com efeito no desmatamento), tráficos de armas e pedras preciosas, roubo de petróleo e falsificação de medicamentos, produtos eletrônicos e cigarros.

O valor global de fluxos criminosos transnacionais foi de aproximadamente US$ 1,1 a US$ 1,4 trilhão em 2014. O impacto econômico desses fluxos é significativo, e os crimes ameaçam a segurança e a estabilidade mundiais.

O estoque de ativos é baseado em bancos de dados do FMI: Pesquisa Coordenada sobre Investimentos Diretos (Coordinated Direct Investment Survey - CDIS); Pesquisa Coordenada sobre Investimentos em Portfólio (Coordinated Portfolio Investment Survey - CPIS); Posição Internacional de Investimentos (International Investment Position – PII); e o banco de dados do Banco de Pagamentos Internacionais (BPI) sobre depósitos bancários internacionais nos paraísos fiscais.

Deve-se levar em conta que mais de 80% dos paraísos fiscais não reportaram, ou reportaram alegando confidencialidade, de modo que os números estão subavaliados.

Todos os dados acima constam do relatório “Fluxos financeiros e paraísos fiscais: uma combinação para limitar a vida de bilhões de pessoas” (http://www.ihu.unisinos.br/571501-e-os-pobres-sutentam-o-cassino-financeiro -global).

Os autores são o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em parceria com o Centro de Pesquisa Aplicada da Escola de Economia da Noruega (SNF); a Global Financial Integrity (GFI); a Universidade Jawaharlal Nehru, da Índia; e o Instituto Nigeriano de Pesquisa Social e Econômica.
 
Frei Betto é escritor, autor de “Paraíso perdido – viagens ao mundo socialista” (Rocco), entre outros livros.

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