Telefonema do Papa para família de Marielle não teve influência da Igreja Católica no Brasil

23/03/2018 às 17:50.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:00

Na missa de sétimo dia por Marielle Franco, dia 20, celebrada na igreja Nossa Senhora do Parto, no centro do Rio, Dona Marinete da Silva, mãe da vereadora assassinada, revelou que a família recebeu telefonema do papa Francisco manifestando solidariedade e afeto. Marielle participou da Pastoral de Juventude e sua mãe, devota de Nossa Senhora Aparecida, foi ministra da Eucaristia na Maré.

A Igreja Católica no Brasil não teve nenhuma influência no gesto de compaixão do papa Francisco. Luyara, filha de Marielle, escreveu ao pontífice dois dias após o assassinato da mãe, e fez a carta chegar às mãos dele por meio do professor argentino Gustavo Vera, amigo de Francisco e presidente da Fundación Alameda, dedicada ao combate do tráfico de pessoas. Participou da articulação Lucas Schaerer, do Partido do Bem Comum, assessor de comunicação da fundação.

A atitude de Francisco se contrapõe ao silêncio da direção da CNBB e a ausência de autoridades católicas em manifestações e cultos em homenagem à vereadora. A única nota de protesto ao assassinato e à violência veio do Regional Leste 1 da CNBB e, assim mesmo, assinada pela “assessoria de imprensa”.

Alguns católicos manifestaram nas redes digitais indignação pela nota do Regional, enfatizando que Marielle defendia o direito ao aborto, à união homoafetiva e era mãe solteira. Em 2015, o papa Francisco foi enfático: “Não existe mãe solteira, pois mãe não é estado civil.”

A tímida reação de autoridades católicas do Brasil frente ao brutal assassinato de Marielle e Anderson contrasta com a história da CNBB durante a ditadura militar, quando reagiu publicamente em defesa dos direitos de comunistas e ateus perseguidos, exilados, presos ou assassinados. Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal de São Paulo, tomou a si a defesa de Vladimir Herzog, judeu e comunista, a ponto de celebrar missa em memória dele na catedral da Sé. Interpelado por que o fazia, respondeu: “Jesus também era judeu.”

Jesus jamais discriminou pessoas que divergiam dele ou viviam em contraposição aos valores que ele propagava. Acolheu o centurião romano, defendeu a mulher adúltera, louvou o gesto afetuoso da prostituta que lhe perfumou os pés, aceitou jantar na casa do opressor Zaqueu.

E ensinou que toda pessoa, não importa o que faz ou como pensa, é templo vivo do Espírito de Deus.

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