A metodologia das pesquisas eleitorais

27/06/2018 às 13:54.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:01

As diferenças nos resultados de pesquisas de intenção de voto chamam a atenção de observadores atentos. Por que há diferenças tão grandes nas estimações feitas por diferentes pesquisas?

Primeiramente, é necessário que se tenha em mente que análises estatísticas de dados amostrais sempre pressupõem erros. Se a amostragem é probabilística (ou seja, todas as unidades da população têm a mesma probabilidade de ser selecionadas para a amostra e essa probabilidade é conhecida), esses erros são previsíveis e controláveis. Uma amostra probabilística, contudo, requer que todos os estágios de seleção amostral sejam aleatórios. Ocorre que, no caso de pesquisas de intenção de voto isso é impossível de ser feito.
De modo geral, os institutos de pesquisa fazem uso de cotas com base em faixas de idade, de escolaridade e de renda para selecionar entrevistados no último estágio amostral. Esse é o procedimento utilizado em pesquisas domiciliares ou que são realizadas face-a-face, em pontos de fluxo, em locais públicos.

Outra possibilidade é a pesquisa feita por telefone. Algumas vezes, a entrevista é feita por uma pessoa, em outros casos o respondente interage com uma gravação e faz suas escolhas utilizando o teclado do telefone, um sistema conhecido por sua sigla em inglês (IVR). 

Tanto em um caso quanto no outro, as pesquisas de intenção de voto correm risco de viés de seleção amostral. Os defensores das entrevistas por telefone costumam argumentar que, como hoje todos têm telefone e há um sorteio aleatório dos entrevistados, suas amostragens são as que mais se aproximam das probabilísticas. Não poderiam estar mais equivocados!

Na verdade, as entrevistas feitas por telefone, principalmente pelo sistema IVR, são as que mais se aproximam de levantamentos com base no pior tipo de amostra: a auto seleção. Todos aqueles que temos experiência em pesquisa social e política empírica sabemos que a taxa de recusa em entrevistas por telefone é extremamente elevada. No caso de pesquisas pelo sistema IVR isso é ainda mais agravado, pois o constrangimento de interromper a entrevista é absolutamente nulo. Assim, quem termina concluindo essas entrevistas e, assim, participando da amostra, são pessoas com características específicas. Se essas características fossem conhecidas, quem analisa os dados poderia corrigir o viés de seleção, utilizando procedimentos de ponderação. Todavia, essas características são totalmente desconhecidas e, assim, a correção se torna impossível de ser feita.

Desta forma, cara leitora e caro leitor, quando tomar conhecimento de resultados de pesquisas como a publicada recentemente pelo DataPoder360 para o Governo e o Senado de Minas, desconfie do resultado!

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