Durou Pouco

09/05/2018 às 17:10.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:45

Parece que durou pouco a alegria da direita liberal com a volta ao poder na América do Sul. Do início da década passada até 2015, havia uma clara tendência de crescimento da esquerda na política sul-americana. Recentemente, contudo, houve a ascensão ao poder de políticos vinculados à direita liberal em quatro importantes países da América do Sul: Argentina, Brasil, Chile e Peru. Essas mudanças pareciam indicar o início de um processo de deslocamento do centro de gravidade da política sul-americana em direção à direita liberal.

Esse quadro, contudo, está irremediavelmente abalado. O primeiro abalo se deu em maio de 2017, com a revelação dos áudios das conversas do presidente Temer com o empresário Joesley Batista. A partir dali, seu governo começou a derreter e sua agenda de reformas neoliberais entrou em colapso.

Mais recentemente, os abalos sísmicos ocorreram no Peru. Após acusações de corrupção, o presidente PPK sofreu um processo de impeachment - do qual conseguiu escapar - seguido de todo tipo de pressão política, tendo sido obrigado a renunciar.

Agora, aquele que parecia ser o grande astro da direita liberal na América do Sul - o presidente Macri, da Argentina - começa a enfrentar o seu calvário. A Argentina volta a quebrar e precisar bater às portas do FMI. Após dois anos e meio como presidente, o Sr. Macri não conseguiu desenvolver qualquer política que desse um mínimo de proteção externa para a economia argentina, apesar de comandar todos os instrumentos necessários para isso, como a política fiscal e a política monetária. A economia do país está tão fragilizada que não aguentou sequer um ataque especulativo razoavelmente leve contra sua moeda (afinal, a desvalorização do peso argentino foi inferior a 10%). 

Chamou a atenção a velocidade com a qual comentaristas de direita retiraram seu apoio ao presidente Macri, alguns passando, inclusive, a chamá-lo de social-democrata (risível!). Estão desesperados para associar o neoliberalismo apenas a algo que pareça dar certo.

Em colunas anteriores, chamei a atenção para o fracasso político do liberalismo econômico. Esse fracasso, com frequência, leva à fragilização do regime democrático, pois se estabelece um impasse entre a vontade popular e o desejo das elites. Tal impasse é permanente, na América do Sul. De quando em vez, surgem lideranças, partidos políticos ou coalizões que conseguem administrá-lo de forma competente. A democracia e o desenvolvimento socioeconômico na América do Sul irão, mais do que nunca, depender dessas lideranças ou organizações políticas. As esperanças da direita liberal sul-americana, agora, recaem sobre os ombros do recém-empossado presidente do Chile, que desempenhará o papel de novo astro neoliberal.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por