A pesquisa de preços e o jogo do Sinduscon

20/07/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:22

Os construtores de imóveis ganharam horrores na era Lula e Dilma. Com crédito fartíssimo oferecido pelos bancos públicos, pleno emprego e uma gigantesca demanda reprimida na classe média, durante quinze anos conseguiram vender tudo o que construíram.

E como a procura era maior que a oferta, patrocinaram uma enorme onda especulativa na qual os preços dos imóveis explodiram.

A situação se inverteu por completo a partir do segundo governo Dilma (na verdade, a partir do último ano do primeiro governo). A crise tirou renda e injetou na classe média o pânico do desemprego.

Por falta de renda ou insegurança dos potenciais clientes para assumir compromissos de longo prazo, as vendas foram ao chão.

E, sob as mesmas regras de oferta e demanda, os preços começaram a murchar e a tender para um patamar mais racional e compatível com a realidade econômica da classe média brasileira.

Venho acompanhando o tema há algum tempo e quem lê regularmente essa coluna sabe que a pesquisa do mercado imobiliário de Belo Horizonte, realizada pelo Ipead/UFMG (o mais respeitado instituto de pesquisas da capital) era a base das minhas análises sobre o refluxo do setor da construção.

A pesquisa era financiada justamente pelos construtores, por meio do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon/MG), para oferecer aos empresários informações fidedignas para que pudessem ler tendências e planejar estratégias.

Tudo correu muito bem enquanto o mercado explodia. Mas, a partir da inversão da curva para a depressão, a pesquisa começou a incomodar.

Enquanto o Sinduscon, no cumprimento de seu papel, mas sem muito compromisso com a verdade, afirmava que os preços e a demanda já tinham batido no fundo do poço e que a hora de comprar havia chegado, a pesquisa do Ipead insistia em provar o contrário: tanto as vendas quanto os preços vinham acelerando a queda e nada sinalizava para inversão do movimento.

O que faz, então, a direção do Sinduscon? Encerra o contrato com o Ipead e transfere a pesquisa para outro instituto, sob nova metodologia que, afirma, refletiria de maneira mais fidedigna a realidade de mercado. E, na sequência, institui um prêmio de jornalismo.

Existem alguns sérios, mas a maior parte dos prêmios de jornalismo no país tem por objetivo induzir a imprensa a escrever sobre determinado tema, a partir de determinado ponto de vista.

Duvido que uma boa matéria que analise a depressão da construção venha a ser premiada, mesmo que seja esta a principal pauta oferecida atualmente pelo setor.

A última pesquisa do mercado imobiliário do Ipead (comercialização) saiu em março. Mostra não apenas que as vendas e os preços continuam caindo, mas a cada mês de forma mais acelerada.

A conclusão óbvia para quem quer comprar um imóvel e pode esperar é que o tempo trabalha a seu favor. Mas não é o que aponta a nova pesquisa contratada pelo Sinduscon. Ela mostra que as vendas reagiram. Mas são dados frágeis por falta da memória histórica.

Na semana passada, fui informado que o Ipead continua fazendo a pesquisa do mercado imobiliário, mesmo sem patrocínio. Mas apenas para consumo interno e para não descontinuar a série histórica. Sinceramente, não divulgá-la é um enorme equívoco. É entrar no jogo do Sinduscon.

Portanto, faço aqui o pedido que já fiz aos coordenadores do Ipead: voltem a divulgar a pesquisa de venda e preços do mercado imobiliário.

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