A política e a Vale

28/02/2017 às 22:07.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:46

O motivo da queda de Murilo Ferreira da Presidência da Vale, anunciada na semana passada, só ficará inteiramente claro quando da indicação do seu substituto. Se a decisão vier de Brasília, e a indicação for feita pelo PMDB, então a coisa toda cheirará muito mal. Partido político quando indica diretoria de empresa tem o único objetivo de receber algum por fora.

A saída de Ferreira já era esperada. Apesar de sua reconhecida competência técnica, foi indicado por Dilma e não duraria no cargo. Apesar da Vale ser uma empresa privada, a mão do governo ainda é pesada por meio do BNDES e dos fundos de pensões das estatais.

Na semana passada, Ferreira, em conference call para analistas de mercado, informou que não renovará seu contrato, que vence dia 26 do próximo mês. Disse que o motivo é a idade, 65 anos, que considera limite para os membros da diretoria. Ninguém acreditou.

Sua atuação à frente da maior mineradora de ferro do mundo, no momento em que o preço do minério foi ao chão, é muito elogiada. Foi em sua gestão que o projeto S11D, no Pará, ganhou corpo e entrou em operação, baixando enormemente o custo médio de produção da empresa e estabelecendo um novo parâmetro mundial de preço por tonelada colocada no porto.

Não me assustaria, de maneira alguma, se algum exu caveira for tirado da cartola do PMDB

Coincidentemente (ou não), na semana passada também foi anunciado que a Vale está se preparando para entrar no Novo Mercado da BM&FBovespa, transformando todas as suas ações em ON, ou seja, com direito a voto, e se tornando consequentemente uma empresa sem um controlador definido. Nesse tipo de empresa, o executivo que conseguir angariar apoio da maioria dos detentores de ações ganha um poder enorme, já que não precisará se reportar ao sócio controlador, ou seja, ao dono da empresa. E quem é hoje esse dono? O bloco de controle integrado por fundos de pensões de estatais, BNDES, Bradesco e a japonesa Mitsui.

Ferreira desejava ser esse executivo da Vale no Novo Mercado, mas não conseguiu por motivos políticos. E agora, que Inês é morta, resta a dúvida de quem ocupara a Presidência. Informações de bastidores dão conta de que esse nome está sendo costurado entre o Planalto e Paulo Caffarelli, o novo presidente do Banco do Brasil, que tem o fundo de pensão Previ como um dos principais acionistas da Vale. </CW>

Cotados
Alguns nomes estão sendo ventilados. Soluções caseiras [/TXT_COL]seriam o atual diretor financeiro, Luciano Siani, ou o diretor de ferrosos, Peter Poppinga. Clovis Torres, diretor de RH, seria um nome forte também, não fosse sua ligação muito estreita com Ferreira.

De fora da Vale, o nome mais cotado é o de José Carlos Martins. Ele era considerado o estrategista na gestão de Roger Agnelli à frente da Vale. Foi o responsável pela maior mudança estrutural ocorrida nos últimos anos na mineração: o empoderamento das mineradoras no estabelecimento do preço do minério. Foi na gestão Agnelli, apoiado por Martins, que o preço da tonelada do minério saiu da faixa dos US$ 20 para bater em US$ 200.

Martins tem um problema e uma vantagem. O problema é que, como conselheiro da Samarco, está indiciado no processo criminal do acidente de Mariana. E a vantagem, ter trânsito no Bradesco, sócio da Vale.

Mas não me assustaria, de maneira alguma, se algum exu caveira for tirado da cartola do PMDB por Michel Temer para repetir o trabalho sujo que o partido se esmerou em fazer na Petrobras e nas elétricas.

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