A sobrevida da samarco

29/04/2016 às 21:25.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:12

O resultado das contas do governo federal e a nova composição do <CF24>board</CF> da Usiminas não deixaram espaço na última coluna para um comentário sobre o balanço e o enorme prejuízo da Samarco, divulgados na semana passada. Faço isso hoje.

O rompimento da barragem de Fundão ocorreu em 5 de novembro do ano passado. A mineradora, portanto, operou normalmente por dez meses e quatro dias em 2015. Mesmo assim, registrou prejuízo líquido de R$ 5,836 bilhões, contra um lucro líquido de R$ 2,805 bilhões no ano anterior. Um resultado absurdamente ruim a primeira vista. Mas vamos aos detalhes que mostram que o cenário não é tão negro.

O grosso do prejuízo não veio da perda de receitas, mas das provisões para contingenciamento de despesas futuras relacionadas ao acidente que somaram R$ 9,831 bilhões. E, ainda, da baixa contábil relativa à reavaliação dos ativos de R$ 217 milhões (sem efeito caixa). Efetivamente nas ações emergenciais foram gastos apenas R$ 144 milhões (digo ‘apenas’ para referir-me ao impacto no caixa, já que nos 56 dias pós-acidente o desembolso médio diário foi de R$ 2,6 milhões, o que, convenhamos, não é pouco para ações de emergência).

Na verdade, a Samarco conseguiu produzir em Mariana 25,4 milhões de toneladas de concentrado de minério nos meses que antecederam o acidente. A queda na produção foi de apenas 3,5% na comparação com o ano anterior. Apesar dos preços do minério terem batido no fundo do poço no ano passado, a empresa, ao contrário de suas controladoras (Vale e BHP Billinton), ainda se mantinha lucrativa.

Não fosse o contingenciamento e a baixa contábil, o lucro bruto no ano passado teria sido de R$ 4,21 bilhões. Não tenho como calcular com precisão uma projeção do lucro líquido, mas digamos que os impostos incidentes sobre o lucro abocanhem uma fatia de 30%. Então, teríamos um lucro líquido de 2,95 bilhões, mais do que o realizado no ano anterior, mesmo com a paralisação da mina a partir de novembro.

Como o contingenciamento feito pela Samarco foi bastante conservador, de agora até o retorno das operações o prejuízo estará circunscrito aos custos operacionais e financeiros. Não temos como calculá-los, já que a realidade passada não serve mais como parâmetro. Mas, de qualquer forma, será a capacidade da empresa de enxugar a máquina e a velocidade no retorno da operação que determinarão sua sobrevida.

A expectativa da Samarco é voltar a produzir já no quarto trimestre deste ano. Se for assim, terá ficado parada por pouco mais ou pouco menos de um ano. Acredito que a empresa terá fôlego suficiente para chegar até lá com tranquilidade, já que possuía ao final de 2015 um caixa de R$ 1,80 bilhão e boa capacidade de negociação com os bancos para alongamento da dívida (tirando a barragem de Fundão, seus ativos estão intactos, seus custos estão entre os menores do mundo e suas margens entre as maiores).

Protocolarmente, a PwC, que auditou o balanço, ressaltou que ainda “existe dúvida” se a Samarco voltará a operar ou não. Para que todos tenhamos mais segurança sobre este ponto, aconselharia à Samarco divulgar, a partir de agora, balanços trimestrais como fazem as empresas de capital aberto. Ou, ao menos, os indicadores de custos operacionais, prejuízo, caixa, evolução e perfil da dívida, que nos mostrariam até onde vai o fôlego da empresa.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por