A Ternium chutou para o gol

26/02/2017 às 16:03.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:44

A notícia da venda da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), por € 1,5 bilhão (cerca de R$ 4,9 bilhões), movimentou nesta semana o modorrento mundo dos negócios brasileiro. Há muito não se via uma cartada como essa. Não foi sem motivo que as ações do grupo comprador, o ítalo-argentino Ternium, deram um salto de mais de 10%, anteontem, na bolsa de Nova York.

A CSA é um ativo sensacional, composto por uma enorme usina em estado da arte, mais porto e usina elétrica. O conjunto foi vendido a preço muito abaixo do custo de implantação. Um projeto <CF24>greenfield</CF> do porte da CSA, com capacidade de produção de 5 milhões de toneladas ano, não sai por menos que € 6 bilhões, conforme disse um especialista com o quem conversei nesta semana.

A pechincha se deu em função da crise mundial do setor siderúrgico e da urgência do vendedor, o grupo alemão ThyssenKrupp, em fazer caixa. Mas, apesar de tentador, não era negócio para qualquer um. Tentarei explicar por que foi justamente a Ternium quem arrematou a CSA, e como o negócio modifica a composição de forças entre as siderúrgicas das Américas.

Comprador
Todos do setor do aço já sabiam que a Thyssen havia colocad[/TXT_COL]o a CSA à venda há um bom tempo. Apesar do enorme esforço e dinheiro despendidos na implantação da usina de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, os alemães haviam desistido do negócio e colocaram a CSA no pacote de ativos a serem rifados para abater parte das pesadas dívidas da Thyssen.

O problema era arranjar um comprador para a CSA. O mercado de placas é absolutamente volátil, e poucos players reúnem coragem e ousadia para encará-lo.

Placas são produtos semiacabados. Precisam ser laminadas e transformadas em bobinas de aço para só então serem empregadas na fabricação de produtos finais. Os compradores das placas são as poucas usinas do mundo exclusivamente laminadoras e, principalmente, as usinas cuja capacidade de produção de placas é menor do que a de laminação.

Em função disso, quando o consumo de aço no mundo está alto, a demanda por placas explode, assim como os preços. Mas quando o consumo esfria, a demanda por placas vai ao chão. Essa volatilidade de preços e demanda é muito maior do que a dos aços laminados, e por isso amedronta e afugenta possíveis interessados numa planta como a da CSA.

Ternium
Acontece que a Ternium, que nos últimos anos se consolidou como um dos grandes players da siderurgia nas Américas, com plantas no Brasil, Argentina, México, Colômbia e EUA, possui um enorme déficit de placas. Suas aciarias produzem cerca de 3 milhões de toneladas a menos de placas do que a capacidade de produção de bobinas de suas laminações. A diferença é adquirida no mercado. Por isso, a CSA foi comprada não com o objetivo de colocar placas à venda no mercado internacional, mas basicamente para suprir um déficit interno do próprio grupo Ternium.

De qualquer maneira, um negócio desse porte não poderia ser fechado se não houvesse disponibilidade de recursos ou capacidade de endividamento por parte da Ternium. Acontece que a Ternium apresenta, hoje, um dos menores níveis de endividamento da siderurgia mundial. Sua alavancagem – a relação entre dívida líquida e geração de caixa (ebitda) – é hoje de apenas 0,6 vez, enquanto um nível de até 4 ou 5 vezes ainda é considerado saudável pelos agentes de financiamento.

Ou seja, a bola quicou na frente da Ternium e ela chutou para o gol.

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