As projeções pouco realistas do BC

28/09/2016 às 12:24.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:00

O que mais chama a atenção no relatório de inflação divulgado ontem pelo Banco Central não é a projeção do índice de preços propriamente dito, mas do crescimento da economia. O BC projeta um recuo de 3,3% no PIB para este ano e um crescimento de 1,3% para o próximo. Não sei qual a base de cálculos e as variáveis utilizadas pela equipe técnica do BC, mas o resultado é, no mínimo, estranho.

Até o momento, não existe qualquer sinalização de reação da economia. No segundo trimestre deste ano (o dado mais recente), o PIB apresentou nova queda de 0,6% na comparação com o trimestre anterior. Trata-se do sexto trimestre seguido de queda nessa comparação (18 meses). Em julho, a prévia do BC indica que tivemos nova queda de 0,1%.
 
O mergulho na recessão se mantém, mas é até possível que ao final do ano tenhamos uma queda menor que os 4,7% de contração registrados no acumulado de 12 meses até junho. Não por conta de alguma reação da economia, mas por que a base de comparação (os 12 meses anteriores) fica mais achatada a cada mês que passa. Ao final deste ano, estaremos comparando o PIB com o do ano passado, que já havia caído 3,8%.

Mesmo assim, a projeção de queda de 3,3% do BC é muito otimista, visto o tombo do primeiro semestre e a incapacidade de reação da economia demonstrada até o momento. E, para o próximo ano, a aposta da autoridade monetária numa pequena recuperação de 1,3% não passa de chute.
 
A economia brasileira tem potencial para crescer até bem mais que isso e já demostrou esse poder de reação em 2010, quando após a queda de 0,2% em 2009 por conta da crise financeira internacional, reagiu bem aos estímulos macroeconômicos e deu um salto de 7,6%. O problema é que hoje não existem mais estes ‘estímulos macroeconômicos’, e a possibilidade de que a recessão se transforme em depressão no próximo ano não está de maneira alguma descartada.

De onde viria uma reação, mesmo que pequena como prevê o BC, abaixo inclusive do crescimento vegetativo da população, se o governo não estimula a economia? Se os juros continuam nas alturas, se o crédito é hoje uma miragem e se o câmbio joga contra os exportadores e a indústria nacional?

Inflação
Quanto à inflação, o BC acredita que o IPCA caminhará para 4,4% ao final de 2017, abaixo do centro da meta, que é de 4,5%. Para este ano, o índice ainda ficaria em 7,3%. O recuo seria fruto do amadurecimento dos resultados da política monetária, outro erro de avaliação da realidade. Não existe qualquer sentido em se falar hoje de inflação de demanda, a única que pode ser combatida com arrocho monetário. A inflação atual é o oposto disso. Os empresários estão aumentando preços numa tentativa de recomposição das margens que perderam diante da queda nas vendas.

Crescer, portanto, seria uma saída até para a inflação. Mas o atual governo é contra.

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