Cadê a carne podre?

21/03/2017 às 11:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:49

E, então, Justiça e Polícia federais do Paraná? 

Onde está a carne podre? Quem são os responsáveis pela venda da carne podre? Qual o volume de carne podre identificada? Os grandes frigoríficos vendem carne podre? O tratamento de carne podre com ácido ascórbico é prática generalizada do setor? Quem colocava papelão na carne moída usada nos embutidos? Quem injetava água no frango para aumentar o peso? As respostas para essas perguntas são urgentes, já que a operação ‘Carne Fraca’ caiu como uma bomba de fragmentação no setor de frigoríficos, atingindo todas as empresas por igual e gerando pânico na população. 

Agora, se a carne podre e as demais irregularidades sanitárias estiverem restritas ao pequeno frigorífico Peccin, então sugiro que a conta do prejuízo com as exportações seja mandada para a Justiça e a Polícia federais do Paraná. 

Vamos, senhores, mostrem que todo o alarmismo criado pela operação ‘Carne Fraca’ não é exagero, distorção ou mentira. Que o motor da operação não é ideológico. Que vocês não estão promovendo uma caça às bruxas no rastro do desmonte do governo petista. Que o objetivo não é atingir por meio de denúncias falaciosas e meias verdades os grandes frigoríficos que se tornaram multinacionais nos governos Lula e Dilma. Que não são esses dois últimos os reais alvos a serem atingidos.

A PF do Paraná diz ter encontrado “até carne podre” tratada com ácido ascórbico para maquiar o odor e a aparência. Lista vinte e duas empresas suspeitas e alvos de busca. Mas não podemos aceitar esse evasivo e pouco preciso “até carne podre”. Precisamos saber que carne podre é essa, produzida por quem, em qual quantidade, vendida para quem, consumida por quem, se exportada ou não.

O objetivo inicial da operação era desarticular uma suposta organização criminosa de fiscais do Ministério da Agricultura que cobrava propinas para emitir certificados sanitários sem fiscalização. Ok, investiguem e prendam. Mas o que está colocando em risco bilhões de reais em exportações não é a propina, mas a denúncia de uso de carnes podres maquiadas com ácido ascórbico, a reembalagem de produtos vencidos, o uso de papelão na produção de embutidos e a injeção de água em frango. Todas as vinte e duas empresas investigadas cometeram tais irregularidades sanitárias? As duas gigantes exportadoras JBS e BRF cometeram tais irregularidades?

A questão é a seguinte. É prática generalizada e histórica na fiscalização sanitária no Brasil que se crie dificuldades para vender facilidades. Por isso a fiscalização é desacreditada. Tanto que, para exportar, a exigência dos compradores às empresas brasileiras não é a comprovação de regularidade junto aos órgãos internos de controle, mas a adequação às normas sanitárias internacionais e a auditagem independente. Se paga propina (o que não defendo nem minimizo a gravidade), muitas vezes não é para se esconder irregularidades, mas para que fiscais corruptos não criem dificuldades burocráticas desnecessárias.

De todo modo, pagar propina é crime que deve ser investigado e punido. Mas quando polícia e justiça não são assertivas em suas denúncias, isso é agir com irresponsabilidade. Quando a Justiça e a Polícia federais do Paraná colocam todos no mesmo saco, generalizam denúncias e misturam propina com carne podre, abrem brecha para que se suspeite que existam objetivos escusos por trás da ‘Carne Fraca’. Sinceramente, esses caras do Paraná estão a cada dia mais desacreditados.

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