Cadeia para os banqueiros

28/06/2016 às 08:08.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:05

Posso parecer repetitivo, mas na verdade procuro ser persistente em alguns assuntos. Por exemplo, quando abordo o cartel dos bancos e a combinação das taxas de juros. Esse câncer da economia brasileira só será extirpado se for sistematicamente combatido. Faço, então, a minha parte.

Ontem, o Banco Central divulgou o balanço de maio das operações de crédito e o levantamento dos juros cobrados no sistema financeiro nacional (leia matéria da repórter Tatiana Lagôa na página 5). O levantamento mostra que o volume de crédito continua aumentando, as taxas de juros ultrapassaram todos os limites do racional e o spread bancário (a diferença entre o custo de captação e de empréstimo do dinheiro) explodiu.

É incrível como os bancos estão sempre bem. Na bonança, lucram com o financiamento do consumo e dos investimentos. Na crise, compensam a queda na demanda por crédito com taxas de lucro escorchantes, impostas com a desculpa de proteção contra o risco da inadimplência. Uma mentira risível.

Vamos, então, aos números para não parecer perseguição injusta. Primeiro, o volume total de crédito, que cresceu. O movimento parece incoerente com a crise, mas explicarei por que não é.

O volume de crédito atingiu R$ 3,145 trilhões em maio, aumento de 0,1% na comparação com o mês anterior e de 2% na comparação com maio do ano passado. Isso é reflexo do desemprego. Quando um membro da família perde o emprego, toma-se crédito numa tentativa desesperada de manter os compromissos em dia (aluguel, escola, água, luz etc). As famílias estão entrando no cheque especial, no rotativo do cartão de crédito e nos empréstimos bancários para bancar os gastos do dia a dia. Uma loucura suicida, mas muitas vezes a única saída.

O resultado é que o total do crédito para pessoas físicas cresceu 0,4% no mês (maio/abril) e 4,8% em 12 meses (maio/maio), para R$ 1,526 trilhão. Foi o único segmento positivo no crédito. Por conta da crise, os empréstimos para empresas caíram 0,1% e 0,5% nas mesmas comparações, para R$ 1,619 trilhão.

E os juros? Na média do sistema bancário, atingiram 32,7% ao ano para empresas e 71,7% ao ano para pessoas físicas, os níveis mais altos da série histórica que começou em 2011. 

Mas vamos ao absurdo do absurdo, ao inimaginável, ao roubo descarado: no rotativo do cartão de crédito, a taxa de juros subiu 18,9 pontos percentuais na passagem de abril para maio, para 471,3% ao ano. O rotativo é aquele limite pré-aprovado do cartão de crédito que permite saques no caixa eletrônico. Apesar da taxa, o total dos empréstimos no rotativo do cartão de crédito atingiu, em maio, R$ 26,521 bilhões.

Já no cheque especial, a taxa de juro em maio foi a 311,3%, também recorde, e um aumento de incríveis 79,3 pontos percentuais contra maio do ano passado.

Diante dessas taxas, você conhece algum negócio melhor que emprestar dinheiro no Brasil? Não vale responder venda de cocaína. E qual o motivo desse absurdo? Os bancos dizem que é o aumento da Selic, hoje em 14,25% (contra 471,3% do crédito rotativo), e o aumento da inadimplência (que no cheque especial passou de 14,5% em abril para 14,9% em maio, ou seja, quase nada).

Mentira deslavada. O motivo das absurdas taxas de juros praticadas no Brasil está nos cinco bancos que dominam o mercado, se reúnem e combinam o aumento das taxas. São eles o Itaú/Unibanco, o Bradesco, o Banco do Brasil, o Santander e a Caixa Econômica Federal. E alguns degraus abaixo, o BTG Pactual, o HSBC e o Safra. Como cartel é crime, cadeia seria o mínimo para essa turma.

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