Deflação mostra erro do BC

11/11/2016 às 16:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:37

Quando o Banco Central mexe nos juros, está mirando as expectativas futuras de inflação. Por isso, muitas vezes um aumento ou corte da Selic pode parecer incoerente com o IPCA do momento. Na verdade, as tendências e os fatores de pressão sobre os preços são levados mais em conta pelos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC do que a taxa de inflação propriamente dita.

Mas, quando avaliamos tanto a taxa de inflação quanto as tendências e os fatores de pressão atuais, nada justifica o conservadorismo do BC. Na última reunião de 19 de outubro, o Copom cortou a Selic em 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano. Essa foi a primeira redução em quatro anos. Mas, na verdade, o juro real, que é a taxa básica menos a inflação, continua crescendo por conta da desaceleração da inflação.

Continuamos pagando o maior juro do mundo, mais do que qualquer país em crise econômica sistêmica ou bélica. O Brasil está em recessão, mas nem de longe oferece risco aos investidores quanto Turquia, Rússia, Venezuela ou Grécia, que praticam taxas muito inferiores às brasileiras.

Aposto todos os meus minguados trocados que o BC nos frustrará novamente

A desculpa para essa absurda distorção (que sejamos justos, transpassou todos os governos desde a redemocratização, com um pequeno período de queda consistente apenas no segundo governo Dilma, quando a taxa bateu no piso de 7% ao ano) sempre foi o combate a inflação. Juro alto provoca dois efeitos: o primeiro, enxuga a liquidez da economia, concentrando o dinheiro nos bancos e tirando vendas do comércio. Sem pressão de demanda, os preços tendem a cair. E o segundo, promove a valorização do real. O juro alto serve como imã na atração do capital especulativo internacional, e a entrada massiva de dólares derruba a cotação da moeda americana. Com o câmbio sobrevalorizado, os produtos importados se tornam mais baratos, forçando a queda de preços dos similares nacionais.

O problema é que o juro alto é um remédio para a inflação com efeitos colaterais devastadores para a economia e para toda a sociedade. Todos que possuem dívidas ou fazem compras financiadas perdem montanhas de dinheiro para os bancos. O comércio para de vender. E a concorrência desigual com os importados quebra empresas e desindustrializa o país.

O grande erro atual (e também do passado na maior parte do tempo) é que a doença não justifica um receituário tão amargo. E, como disse acima, se a matéria-prima do Copom são as projeções e tendências, então não se trata nem de exagero na dosagem, mas de erro puro e absoluto na estratégia.

Se a inflação ainda esta alta (na casa de 6% no acumulado de 12 meses), isso se dá por conta da contaminação dos aumentos dos preços administrados patrocinados no ano passado. Não existe, hoje, pressão de demanda e nem da entressafra dos alimentos. Se olharmos para a evolução atual dos preços, o que temos é a inversão de tendência, que passou para deflação.

O IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) da Fundação Getúlio Vargas, divulgado ontem, registrou deflação de 0,11% na primeira prévia de novembro. No mesmo período do mês passado, já havia registrado deflação de 0,01%. No atacado, que aponta possíveis pressões futuras, a queda foi ainda mais acentuada, de 0,29%. Ou seja, não existe motivo para que o BC não se mova e faça um corte profundo da Selic. Já era esse o cenário desenhado na última reunião, em que o corte veio menor do que o esperado pelo mercado, que já era de conservador 0,5 ponto percentual.

Neste ano teremos mais uma reunião do Copom, que atualmente acontecem oito vezes ao ano, nos dias 29 e 30. Será a oportunidade para o BC mostrar alguma ousadia e sinalizar para uma política mais agressiva de retomada do crescimento. Mas, conhecendo a atual diretoria, aposto todos os meus minguados trocados que o BC nos frustrará novamente.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por