Dilma e Barbosa no teatro do Senado

29/08/2016 às 18:13.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:36

Hoje é dia do depoimento de Dilma que, segundo adiantaram alguns jornais, terá tom emocional. Trata-se do mais aguardado depoimento, já que é a própria presidente acusada que fará sua defesa. Mas o principal depoimento no julgamento do impeachment, ao menos tecnicamente, foi o do ex-ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, no sábado.

Barbosa foi o principal responsável pela política fiscal da qual se extraíram as acusações contra Dilma. Foi também o último ministro da Fazenda da presidente, tentando gerir o estrago feito na economia por seu antecessor Joaquim Levy. Não chegou a durar cinco meses no cargo, até o afastamento de Dilma.

Mas foi antes, como secretário-executivo do Ministério da Fazenda, quando Guido Mantega encabeçava a pasta, entre 2011 e 2013, que Barbosa conduziu as ações que ficaram conhecidas como pedaladas fiscais.

Na arguição no Senado, Barbosa foi seguríssimo. Firme, tranquilo e didático, rebateu tecnicamente as acusações contra si e contra a presidente. A diferença da qualidade argumentativa do ex-ministro e dos senadores acusadores foi abissal. Basicamente, Barbosa defendeu a legalidade dos decretos de suplementação orçamentária assinados por Dilma e afirmou que o atraso por parte do Tesouro na equalização das taxas de juros devidas ao Banco do Brasil no Plano Safra não configura crédito dos bancos públicos à União. “Se não é operação de crédito, não há o que se falar em crime de responsabilidade”.

Pela manhã, participaram do depoimento meia dúzia de senadores, mais interessados em falar do que em ouvir. À tarde (o depoimento durou oito horas), o quórum aumentou um pouco, mas ainda assim o plenário se manteve esvaziado. Somente no final da tarde, quando todos os argumentos técnicos mais importantes já haviam sido colocados, o plenário se encheu.

A diferença da qualidade argumentativa do ex-ministro e dos senadores acusadores foi abissal

A sessão de sábado mostrou claramente o que todos nós sabemos: o julgamento da presidente é um jogo de cartas marcadas. O afastamento de Dilma já está decidido e será uma ação política. Daí o desinteresse dos senadores pela argumentação técnica e jurídica.

Hoje, Dilma passará pelo constrangimento de ser elegante com seus algozes. Sua presença no Senado, de certa forma, jogará uma capa de legitimidade sobre o golpe. O teatro estará completo quando a presidente se apresentar perante seus acusadores, representando o papel de quem acredita que ainda pode ser salva.

A verdade é que seu destino já está selado e sua cabeça rolará ainda nesta semana. O próximo passo, então, será o estabelecimento de um grande pacto conservador pela governabilidade de Temer, com o fim da Lava-Jato e a anistia para todos os deputados e senadores envolvidos em roubo de dinheiro público. E então o Brasil voltará a ser o que sempre foi.

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