Enfim, o setor elétrico

17/11/2016 às 14:13.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:41

E a Andrade Gutierrez, enfim, delatou o que todos já sabiam, mas faltavam provas. A empresa informou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), com quem firmou acordo de leniência, a existência de um cartel para disputar as licitações de construção e operação da Usina de Belo Monte. Além da Andrade, participavam do cartel a Camargo Corrêa e a Odebrecht.

Não confio nem um pouco nessa turma do Cade, mas, como os empreiteiros resolveram falar, pode sair coisa boa da delação. O órgão já apurava a formação de cartel na disputa das obras da Petrobras e da Eletrobras, e agora segue rumo as grandes obras das hidrelétricas da região Norte.

Pode ser que a delação leve a outro caso, o da estranhíssima relação entre Andrade Gutierrez e Cemig

Tudo fruto do que foi levantado no âmbito das investigações da Lava Jato e das delações já feitas pelos executivos da Andrade Gutierrez ao MP de Curitiba.

Cemig
Se não houver seletividade, e se um fio puxar o outro, pode ser que a delação leve a outro caso, o da estranhíssima relação entre Andrade Gutierrez e Cemig em outra grande usina, a de Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia. Já contei o caso aqui, mas não custa relembrar:

Em junho de 2014, a Andrade Gutierrez Participações vendeu 86,7% da sua participação em Santo Antônio para o fundo FIP Melbourne, integrado por Cemig e outros investidores. Pela compra, o fundo pagou R$ 835,8 milhões. Mas, dentro do fundo, foi a Cemig quem de fato adquiriu a quase totalidade da participação da Andrade Gutierrez. Com a compra, a estatal mineira aumentou sua participação em Santo Antônio de 10% para 17,7%, que passou a equivaler a R$ 3,617 bilhões.

O problema é que em meados do ano passado, quando o negócio entre Cemig e Andrade Gutierrez foi selado, Santo Antônio atravessava um momento bastante ruim. As obras estavam muito atrasadas em função das greves dos operários acontecidas entre 2011 e 2013. Com o atraso, o consórcio responsável pela construção e operação da usina estava ameaçado de arcar com multas bilionárias por conta do prejuízo causado às distribuidoras com as quais havia firmado contratos antecipados de fornecimento de energia.

É neste momento difícil que a Andrade Gutierrez resolve sair do negócio e a Cemig, aumentar sua participação. O que levanta dúvidas sobre a isenção na avaliação do investimento é que a Andrade Gutierrez também era maior acionista da Cemig depois do governo de Minas. E, pela importância dessa participação, era quem indicava o diretor de Novos Negócios da Cemig, ou seja, a pessoa que avalia as compras da estatal.

A conta não demorou a chegar. Em 21 de outubro, quatro meses depois do negócio entre Cemig e Andrade Gutierrez, a Assembleia de Acionistas da Madeira Energia S.A. (Mesa) aprovou nova integralização de capital, de R$ 1,59 bilhão, a ser coberta pelos sócios. O dinheiro seria usado em grande parte para o pagamento das dívidas com as empreiteiras, que chegavam a R$ 700 milhões.

Essas empreiteiras, pasmem, eram Andrade Gutierrez e Odebrecht. Ou seja, a Andrade não só saiu de Santo Antônio antes da integralização, como também recebeu o dinheiro da mesma integralização. Coisa de pai para filho.

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