Estamos perdendo mais uma onda de crescimento

30/03/2017 às 20:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:57

O Brasil é mestre em perder o timing das ondas da economia mundial. Estamos sempre remando contra a maré. Foi assim, inclusive, no governo Lula, quando poderíamos ter crescido muito mais que os 3,5% da média daqueles anos maravilhosos da explosão chinesa (não caia na conversa de quem diz que esses 3,5% são o limite brasileiro para crescimento sem inflação). O problema é sempre o mesmo: o conservadorismo e a miopia do governo. Ao invés de pisar no acelerador nos bons momentos, o governo sempre pisa no freio. Aumenta juros e fecha as torneiras de liquidez.

Neste momento, estamos vivenciando o início de uma nova onda de crescimento mundial. A economia chinesa parou de desacelerar e está novamente engrenando por força dos investimentos das estatais e da retomada de programas de investimento em infraestrutura. A economia norte-americana também registra aceleração, tanto que o FED voltou a aumentar os juros (mas com racionalidade, já que por lá o juro básico estava próximo a zero). Na Europa, os indicadores de desemprego apontam para os menores patamares desde o estouro da crise financeira de 2008.

Deveríamos ligar os motores e acelerar. Mas vá dizer isso a Meirelles e companhia...

O que deveríamos fazer ante o cenário positivo? Ligar os motores e acelerar. Mas vá dizer isso a Meirelles e companhia...

A raiz dos nossos males está na obsessão pelo ajuste fiscal. O receituário é recessivo e o resultado não poderia ser outro senão recessão. Neste ano, segundo o próprio Banco Central, a economia deverá crescer medíocre 0,5%. Não existe lógica em crescermos tão pouco enquanto o mundo volta a acelerar, o mercado internacional se torna mais líquido, as relações de troca se ampliam e os preços das commodities se recuperam.

Em fevereiro, a balança comercial registrou saldo positivo de US$ 4,378 bilhões, o que já é reflexo da melhora do ambiente de negócios lá fora. Mas, perversamente, é resultado também da inanição do mercado interno e da queda nas importações.

Mesmo diante da reação internacional à Operação Carne Fraca, a expectativa do BC agora é de um saldo positivo na balança comercial em 2017 de US$ 51 bilhões, 16% maior que a projeção anterior. O esperado é que o país exportará US$ 200 bilhões neste ano, US$ 15,5 bilhões a mais do que no ano passado. Isso se dá em função, principalmente, da recente valorização das commodities, onde o desempenho do minério de ferro é simbólico. Hoje, a tonelada está sendo negociada próximo de US$ 85, enquanto era por US$ 60 há apenas cinco meses, um salto de 40%.

Então, que tal usar esse dinheiro para turbinar o mercado interno, que é o verdadeiro motor da economia? Não para Henrique Meirelles (Fazenda), Ilan Goldfajn (BC) e seus blue caps, que sonham que o crescimento virá como passe de mágica quando o ajuste fiscal for atingido. Uma piada. A queda do PIB dos últimos três anos e, consequentemente, da arrecadação e do rombo fiscal, mostram que na toada atual o ajuste fiscal não será atingido nunca.

Obrigatório, agora, seria cortar juros de maneira radical, fazer com que essa queda chegue ao tomador final, abrir torneiras de liquidez, retomar os programas de financiamento de investimento da indústria e de obras de infraestrutura. Mas o governo insiste na ilusão da reforma trabalhista e da Previdência, na terceirização, em mudanças estruturais perversas socialmente e de resultado duvidoso na economia, que em nada influem no curtíssimo prazo.

Sinceramente, o que o brasileiro precisa no momento é de emprego, e com Temer a coisa não vai.

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