Malandragens na economia

27/07/2016 às 15:12.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:02

Sabe qual o segredo para manter o resultado das contas públicas dentro dos limites legais? Não é cortar gastos, aumentar os impostos ou combater o déficit público. De acordo com a bem-sucedida estratégia do governo interino, o mais eficiente é ampliar enormemente os limites de performance. Assim, é possível dizer que um resultado desastroso segue sob controle e dentro do planejado. É isso que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fez com a dívida pública e o resultado do tesouro.

Não escrevi ontem sobre a divulgação da dívida federal em junho para publicar o último artigo da série sobre a Cemig. Com ligeiro atraso, retomo o assunto hoje. Vamos, então, à dívida e à estratégia de Meirelles.

Conforme divulgado, de maio para junho, ou seja, em apenas 30 dias, a dívida pública subiu 2,77%, para R$ 2,958 trilhões. As emissões líquidas (emissões menos resgates) foram de R$ 6,11 bilhões, as maiores em 12 meses. Mesmo assim, o Tesouro Nacional justificou que a evolução da dívida indica que o estoque encerrará o ano dentro das bandas do Plano Anual de Financiamento (PAF), que impõe os limites de R$ 3,1 trilhões e R$ 3,3 trilhões ao final de 2016, uma enormidade injustificável.

A mesma estratégia foi adotada para o resultado do Tesouro. O resultado de junho será divulgado na próxima quinta-feira, mas já sabemos que a tendência é de piora continuada do rombo. Mas isso não chega a ser um problema para Meirelles e a nova equipe econômica, que estabeleceram uma meta de déficit para as contas públicas neste ano de incríveis R$ 170 bilhões, e de novos R$ 140 bilhões em 2017.

É bom trabalhar com folga, não é mesmo? Sem pressão e com gigantescas metas negativas. Imagine se o Brasil fosse uma empresa e Meirelles o novo diretor financeiro contratado.
- “Como meta, proponho um prejuízo de R$ 170 bilhões”, diria ele ao Conselho de Administração.
- “Está louco, nosso endividamento já ultrapassou todos os limites previstos”, responderiam os conselheiros.
- “Ora, então vamos ampliar esses limites”, retrucaria Meirelles.

Numa empresa privada, esse executivo não chegaria a esquentar a cadeira.

Déficit
Na coluna da próxima sexta-feira vamos analisar o resultado do tesouro de junho. Mas, como já estou falando de dívida p[/TXT_COL]ública e do seu impacto sobre as contas do governo, me sirvo dos números de maio, somente para o leitor ter uma noção do tamanho do problema.

O déficit primário do acumulado de janeiro a maio ficou em R$ 23,8 bilhões. O resultado primário é obtido pela soma das receitas do governo subtraídas as despesas correntes. É o resultado antes do pagamento dos juros e amortizações da dívida. Deveria, portanto, ser obrigatoriamente positivo, já que é preciso fazer dinheiro para pagar os compromissos financeiros. Mas, como o resultado está no vermelho, tanto o déficit quanto os juros da dívida se transformarão em mais dívida.

Mas, sejamos justos com o interino Michel Temer. Quem jogou essa bola de neve morro abaixo foi Dilma ao trocar Guido Mantega por Joaquim Levy na Fazenda, em janeiro do ano passado. Mas, com Henrique Meirelles, Temer continua rolando a bola de neve do déficit e do endividamento que não para de crescer. Chegará o momento em que ficará tão grande que ninguém terá força para pará-la.

É evidente que este processo precisa ser estancado antes que o país quebre. E se o problema é Temer e Meirelles...

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por