Meirelles balança

06/12/2016 às 15:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:58

Façamos justiça: Henrique Meirelles, nosso comandante da economia é de uma coerência absoluta entre pensamento e ação. Ele aponta uma direção e segue sem se desviar um centímetro do curso traçado. Não nos surpreende jamais. Quando assumiu a pasta da Fazenda, disse que reequilibraria a economia novamente sobre o “velho e bom tripé macroeconômico”, adotado no início do governo Lula quando foi presidente do Banco Central. E é isso que fez até aqui e fará até quebrar o país.

Quando Meirelles assumiu o posto em maio do ano passado, eu disse nesta coluna que o resultado inevitável de tal política seria tornar a crise sistêmica e, no médio prazo, tirar toda a capacidade de reação do governo. Pois, passados apenas sete meses da gestão ortodoxa (que na realidade foi implantada um ano antes, sob a batuta de Joaquim Levy, ainda com Dilma), o resultado é que fomos engolfados definitivamente pela crise e o governo, em petição de miséria, não tem mais musculatura para colocar em marcha medidas anticíclicas (digo isso teoricamente, já que o “dream team” de Temer é contra medidas anticíclicas).

A consequência é que Meirelles começa a balançar. Ontem, o ministro teve de dizer que não corre risco de ser demitido. Mas, como todos sabemos, quando um membro do governo precisa vir a público dizer que “está tudo bem” e “estou seguro” é porque, normalmente, nada está bem e a insegurança reina. Em evento na Fiesp (o ministro participou por meio de transmissão ao vivo), perguntado se seu cargo está em risco, Meirelles respondeu o seguinte: “Não tenho visto isso. O processo de discussão sobre precisarmos mudar alguma coisa para crescer é normal. Eu já estive no governo antes, no Banco Central. Principalmente no primeiro momento, que era de enfrentamento da crise, é normal esse processo de discussão. E acredito que seja hoje até mais suave do que foi naquela época. Está tudo bem.”

Quando um ministro vem a público dizer que “está tudo bem” é porque nada está bem

Então tá... mas a verdade é que os empresários estão a cada dia mais insatisfeitos com Meirelles, que em sua obsessão pelo ajuste fiscal não move uma palha para reativar a economia. E o PSDB já trabalha às claras para desestabilizar o ministro da Fazenda e emplacar o preferido dos tucanos, Armínio Fraga. Seria trocar seis por meia dúzia, mas aí a questão é de briga pelo poder. A tentativa de rasteira não tem nada de embate ideológico na área macroeconomia já que Meirelles e Fraga são irmãos siameses na ortodoxia.

Mas, sob fogo cruzado, Meirelles tem acenado que alguma coisa pode mudar nas políticas que miram o curto prazo. Ontem, disse que estão em estudo “medidas rápidas e velozes” para “dinamizar” a economia. Estas seriam anunciadas depois da aprovação da PEC do teto em segundo turno no Senado, prevista para a próxima semana.

Querem bater uma aposta? Meu palpite é que vem por aí um pacotão de privatizações, outro de concessões. Ou seja, pacotes para gerar caixa para o governo, da mesma forma como foi com a vergonhosa lei da repatriação. O que Meirelles quer é não deixar o governo quebrar ou deixar de cumprir a meta fiscal. Já as empresas, que quebrem. Faz parte do ajuste.

Os empresários, que aprovaram entusiasticamente a indicação de Meirelles e Ilan Goldfajn (no BC), começam a entender que sob o tacão do ‘dream team’ as empresas viraram peças acessórias, e não o coração do modelo econômico vigente. O entendimento macroeconômico da mediana do empresariado brasileiro é por vezes turvo, imediatista e equivocado, mas se ilumina em momentos de crise extrema. Hoje, uma coisa é claríssima: é preciso dinheiro para fazer a roda voltar a girar. Então, o negócio agora é exigir crédito farto e barato. É como o náufrago. Primeiro pensar em não morrer de fome, depois o resto. Estão certos.

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