Ninguém é louco para investir no Brasil

06/04/2017 às 20:22.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:02

Dentro de sua estratégia de gerar otimismo a todo custo, o governo federal tentou fazer crescer, ontem, a notícia de que os investimentos das empresas aumentaram significativamente em fevereiro. Em sua versão, os números divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) são mais um sinal da retomada da economia. Não é bem assim. Aliás, é o contrário disso.

O dado utilizado foi o Indicador de Formação Bruta de Capital Fixo, divulgado ontem pelo Ipea. Formação Bruta de Capital Fixo é o conjunto dos investimentos que as empresas fazem em máquinas, equipamentos e instalações, mais os investimentos da construção civil.

Esse indicador é importante porque mostra a expectativa do empresariado em relação à demanda futura. Por isso, é considerado um indicador antecedente, ou seja, que sinaliza o comportamento futuro da economia. Se os empresários estão retomando investimento para aumentar a produção é porque pressentiram uma reação da demanda.

É um sistema que move todo o mundo capitalista, mas não o Brasil de Temer e Meirelles

Mas vamos aos números do Ipea para verificarmos o que está acontecendo hoje. Os investimentos das empresas apresentaram alta de 3,4% na comparação fevereiro/janeiro. É este o dado que o governo tentou vender. No entanto, todas as outras comparações são negativas. Contra fevereiro do ano passado, os investimentos das empresas caíram 1,0%. No trimestre até fevereiro, a queda é de 0,7%. E no acumulado de 12 meses até fevereiro, o desempenho é negativo em 7,9%.

O motivo para os investimentos terem crescido de janeiro para fevereiro é que o desempenho do primeiro mês do ano foi desastroso e achatou a base de comparação. Em janeiro, o indicador caiu 5,3% na comparação com dezembro, e 4,9% na comparação com janeiro de 2016. O que se viu em fevereiro, portanto, foi um soluço compensatório da grande queda de janeiro e um retorno dos investimentos ao patamar da normalidade medíocre verificado desde o início da crise.

Demanda e crédito
E não poderia ser diferente. Atualmente, são dois os motivos que desestimulam o empresário a investir. O primeiro, a absoluta falta de perspectiva de retomada do consumo interno. Pelo contrário, com a continuidade do aumento do desemprego, a perspectiva para o consumo e a demanda continua sendo de queda. E o segundo, o custo do crédito, absolutamente descolado da realidade.

Nenhuma empresa faz grandes investimentos com capital próprio, ou pelo menos não deveria fazê-lo. No sistema capitalista, o raciocínio é o seguinte: o empresário traça um plano de investimento e toma crédito no banco. Com o dinheiro, compra as máquinas. Coloca essas máquinas para fabricar produtos. E com o lucro da venda desses produtos, paga as parcelas do financiamento para o banco e ainda fica com alguma sobra.

É um sistema que funciona e que move todo o mundo capitalista, mas não o Brasil de Michel Temer e Henrique Meirelles. Por aqui, os juros tornaram o crédito absolutamente inacessível. Em fevereiro, o juro médio anual do crédito para empresas foi de 20,3%. É bem mais baixo que os 41,4% do juro médio para as pessoas físicas, mas fica acima da média de lucratividade da maior parte das empresas. Então, para que tomar crédito e investir se a perspectiva é que o banco te tome todo o lucro bruto e ainda te jogue no prejuízo líquido?

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