O discurso e a ação de Lula

29/11/2016 às 21:45.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:52

Os que acompanham essa coluna sabem que fui e continuo sendo muito crítico às políticas econômicas adotadas nos governos Lula e Dilma, principalmente pelas guinadas conservadoras do primeiro (com a dupla Antonio Pallocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central) e da segunda (com Joaquim Levy na Fazenda).

Nenhum dos dois foi capaz de executar uma política econômica genuinamente desenvolvimentista. Mesmo em seus melhores momentos, quando do sucesso das políticas anticíclicas aplicadas por Guido Mantega em 2008, o governo errou no básico ao manter o câmbio sobrevalorizado, o juro básico alto e dar mais importância às desonerações do que aos investimentos diretos.

Mas, quando fora do governo e na oposição, o discurso de Lula ganha outra dimensão e qualidade. Ele não é economista e não mergulha no detalhamento técnico do que defende. Vez por outra chega a apresentar propostas incompatíveis entre si. Mas 90% da sua leitura generalista sobre os motivos da crise e de como ultrapassá-la é corretíssima.

Ontem, o ex-presidente esteve em Belo Horizonte (leia matéria do repórter Bruno Moreno na pág.10), onde participou de eventos da associação de catadores de materiais recicláveis e da ocupação do Izidora. E também deu uma longa entrevista à repórter Edilene Lopes, da Rádio Itatiaia. Me dei ao trabalho de transcrever a parte da entrevista em que Lula fala da crise econômica. Vamos a ela.

Sua leitura generalista sobre os motivos da crise e de como ultrapassá-la é corretíssima

Primeiro, o diagnóstico da crise: “A União não pode fazer investimentos, não tem nem capacidade de arrecadar, nem de investir. Os estados estão todos quebrados. Minas Gerais tem um déficit de R$ 12 bilhões, o Rio de Janeiro, de R$ 20 bilhões, e São Paulo, de R$ 16 bilhões. Todos os estados estão mendigando dinheiro ao governo federal. As prefeituras estão quase todas quebradas, quase todas não vão poder pagar o 13º e, portanto, a capacidade de investimento é zero. Os bancos não estão liberando crédito para ninguém. Os bancos só querem viver de circulação (de dinheiro). Os empresários não investem porque não têm segurança na política. E o capital externo está vindo para cá apenas para comprar ativos prontos. Então a economia está totalmente parada.”

Agora, suas propostas para superação da crise: “Então, só tem um jeito de você tocar a economia neste instante, que é ligar a roda gigante para que a economia volte a funcionar. Em 2003, quando eu cheguei a Presidência, a gente estava numa situação muito parecida com essa, além (de enfrentar o problema) da dívida externa. E eu digo sempre o seguinte: se você quer recuperar a economia do Brasil, comece pelo mercado interno. São 204 milhões de brasileiros que têm vontade de comprar alguma coisa, mas que não podem porque não tem financiamento. Nós temos um desemprego crescente e para gerar emprego você tem que girar a economia e o estado tem que fazer investimento. O estado tem que ser condutor do começo do desenvolvimento. O estado tem que investir em infraestrutura, tem que dar sinais de que está falando sério. Porque tem duas coisas que fazem a economia funcionar: previsibilidade e credibilidade. E hoje nós não temos nenhuma das duas.”

Bem, não foi exatamente isso que Lula fez quando estava na Presidência. Em seu primeiro mandato, surpreendeu o país com uma equipe e política econômica absolutamente ortodoxas. Foi salvo pela grande onda de crescimento da economia mundial e a explosão dos preços das commodities. Senão, teria jogado o país na ladeira da recessão.

Mas, como é candidatíssimo para 2018, espero que tenha mudado e esteja sendo sincero.

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