O exemplo do FED

26/09/2016 às 13:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:59

Na semana passada, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) manteve a taxa de juro básica da economia inalterada em 0,5%. Com uma inflação em agosto de 1,1%, o juro por lá está negativo em 0,6%. Mas o Fed já sinalizou e é praticamente certo que a taxa voltará a subir em dezembro. Se seguir o ritmo tradicional de progressão imposto pela instituição em períodos pouco turbulentos, como o atual, a taxa deverá subir 0,25 ponto percentual, para 0,75%, e se manter negativa ainda até fevereiro ou abril do próximo ano.

Portanto, o mercado brasileiro ainda tem algum tempo para respirar. Mas não é exatamente sobre os riscos de uma fuga de capitais estrangeiros investidos no Brasil que quero falar, mas a respeito de como os EUA e o Brasil tratam os juros como instrumento de combate a crise. Os Estados Unidos, mesmo que ainda não tenha atingido um ritmo vigoroso de crescimento desde o estouro da crise dos subprimes, em 2008, deram um exemplo importante de contenção da crise e de impedimento de que uma recessão importante, mas pontual, se transformasse em depressão.

Pouco antes do estouro da crise, em novembro de 2007, a taxa básica de juro nos EUA atingia o pico de 4,5%. A crise começa a tomar contornos nítidos já em dezembro daquele ano. Em duas reunião do Fed, de dezembro de 2007 e janeiro de 2008, a taxa já era cortada radicalmente em um ponto percentual, para 3,5%. E assim acontece sucessivamente ao longo de todo o ano, até chegar em dezembro de 2008 em 0,25%. A partir de então, ficou nesse patamar absurdamente baixo por 84 meses consecutivos, ou sete anos, até dezembro do ano passado, quando foi aumentada para 0,5%, patamar onde está há nove meses e no qual deverá ficar até dezembro.

O que nos mostra o exemplo americano? Que diante de uma grave crise (e a crise dos subprimes foi a mais grave desde 1929), os americanos não têm qualquer pudor em cortar juros para reanimar a economia. Mas, para voltar a subir as taxas, são ultraconservadores e o fazem a passo de cágado.

No capitalismo, dinheiro barato é como gasolina em um automóvel. Representa a força que tira a economia da inércia. Foi isso que os americanos fizeram. Jogaram as taxas no chão. E completaram a estratégia desvalorizando o dólar e injetando trilhões na economia por meio da recompra de títulos públicos.

Inacreditavelmente, a equipe de Temer faz justamente o contrário. Seriam suicídas? Não, banqueiros

Deu certo. Se as taxas de crescimento da economia americana ainda se mantém entre os modestos 2% e 3%, ao menos o país não registrou mais queda real do PIB depois de 2008. O contrário se deu na Europa, na qual com o propósito de se combater uma suposta crise de origem fiscal, os juros foram elevados e os gastos dos governos, cortados. Aí sim se configurou uma crise real de ordem fiscal. Ao final de 2009 e em 2010, não fosse o salvamento do Banco Central Europeu, Grécia, Itália, Irlanda, Portugal e Espanha teriam literalmente quebrado. Não quebraram, mas também não alçaram voo.

Ao invés do exemplo de sucesso dos americanos, o Brasil, que hoje atravessa uma das mais graves crises econômicas de sua história, prefere seguir e radicalizar o exemplo europeu. Na última reunião do Copom, dia 20 do mês passado, a Selic foi mantida nos absurdos 14,25%. Já estamos pagando esse juro há um ano e dois meses. A próxima reunião acontece dia 20 do próximo mês. Pelos sinais que apontam para uma queda estruturada da inflação, poderemos até ser surpreendidos com um pequeno corte. Mas, dado o patamar absurdo da taxa atual, uma queda de meio ou um ponto percentual representaria quase nada.

Diante da crise, a receita de sucesso é uma só: cortar juros, irrigar a economia e desvalorizar o câmbio. Mas, inacreditavelmente, a equipe econômica de Temer faz justamente o contrário. Seriam suicídas? Não, banqueiros. Todos os diretores do Banco Central são executivos oriundos do sistema financeiro. Ficou claro agora?

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