O fundo é ainda mais fundo

14/11/2016 às 20:47.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:39


A pergunta não é onde fica o fundo do poço, e sim se o poço tem um fundo. Como já vimos na experiência recente da crise fiscal na Europa, é possível cavar mais e mais o poço da recessão com políticas equivocadas e afundar a economia até o ponto em que o retorno se torne quase impossível.

Uma crise econômica de grandes proporções se torna verdadeiramente dramática quando o governo perde a capacidade de combatê-la. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com a Grécia, onde a imposição de um ajuste fiscal draconiano e desnecessário pela Troika (o grupo formado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional) destruiu toda a força de reação do país e o fez mergulhar irreversivelmente na crise. E é esse o risco que corremos, hoje, no Brasil.

Não vou voltar aos detalhes da crise europeia, exemplo acabado de como destruir economias nacionais, já tratada em outras colunas. Mas, aos interessados no assunto volto a recomendar o excelente livro escrito a quatro mãos pelos economistas mineiros Cláudio Gontijo e Fabrício Oliveira, “A Crise da União Europeia (why pigs can’t fly)”, que mostra que, apesar da irresponsabilidade fiscal levada a cabo durante anos por governos populistas de direita na Grécia, nenhum indicador macroeconômico do país apontava para a falência e o default. Estes vieram após a imposição do ajuste fiscal.
Abri a coluna falando de fundo de poço porque o último Boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (que traz as medianas das projeções do mercado financeiro para os principais indicadores macroeconômicos), aponta para uma deterioração continuada da economia (confira na matéria na página 8, da repórter Tatiana Lagôa). A pesquisa mostra que ainda não há sinal de reação da economia real, aquela baseada na produção, no comércio e nos serviços. A perspectiva para a retração do PIB em 2016, que é o dado mais importante do Focus, passou de -3,31% na semana anterior para -3,37%. Já são seis semanas consecutivas de deterioração da expectativa.

Está claro que o governo precisa agir com urgência para reverter tal quadro, sob o risco de mergulharmos definitivamente na crise. E isso se faz, a grosso modo, injetando liquidez na economia: corte dos juros, câmbio favorável aos exportadores, barateamento do crédito ao consumo, liberação dos depósitos compulsórios, uso das reservas para recompra de títulos públicos e investimento em infraestrutura.

Podemos esperar que essa guinada seja patrocinada por Henrique Meirelles (Fazenda) e Ilan Goldfajn (Banco Central)? Definitivamente, não.

CSN e Casa de Pedra
Agora é oficial. Uma bela fatia da área de mineração de ferro da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Congonhas, está a venda. Quem afirmou foi o próprio Benjamin Steinbruch, presidente da empresa, ontem, em teleconferência com analistas de mercado para comentar os resultados do terceiro trimestre. O objetivo da venda é reduzir o endividamento da companhia, de R$ 25,8 bilhões no final de setembro, o equivalente a 7,4 vezes a geração de caixa pelo conceito Ebitda.

Segundo Steinbruch, pode ser vendida uma participação entre 20% e 30% da Congonhas Minérios (que reúne mina, ferrovia e porto, constituída no final do ano passado após a junção da mina Casa de Pedra, da CSN, com a mineradora Namisa). A capacidade de produção da empresa é de 35 milhões de toneladas ao ano, o que a coloca entre as 10 maiores mineradoras de ferro do mundo.


 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por