Por questão de espaço, não costumo usar gráficos nesta coluna. Mas o que segue abaixo é imprescindível para a análise dos resultados trimestrais da Vale. Trata-se da evolução dos dois principais indicadores financeiros da empresa (lucro e receita líquida) e das duas principais variáveis que influenciam os resultados (preço do minério e câmbio).
Não coloquei uma terceira variável importante, o volume produzido, mas justifico: este está em crescimento constante, batendo recordes seguidos nos últimos trimestres. Dessa maneira, se os indicadores financeiros pioram, trata-se de efeito direto do preço do minério ou do câmbio.
Conforme os números divulgados ontem pela Vale, o lucro do terceiro trimestre foi de R$ 1,842 bilhão, queda de 48,6% em relação ao trimestre anterior. Já a receita líquida chegou a R$ 23,772 bilhões, aumento de 2% na mesma comparação.
O gráfico mostra que o preço do minério vem se recuperando consecutivamente nos últimos trimestres, enquanto o lucro da empresa segue na direção oposta (releve o enorme prejuízo do quarto trimestre de 2015, ocasionado por provisões que não são recorrentes). Se preço e os volumes estão crescendo, a piora do resultado da empresa se deve ao câmbio. O real se apreciou significativamente e consecutivamente ao longo de todo o período.
A conclusão a que chegamos é que a única variável sobre a qual nós, brasileiros, temos algum poder de ingerência está sendo utilizada pelo governo contra os interesses das empresas nacionais exportadoras (estou usando a Vale como exemplo, mas o raciocínio cabe a todas as demais). Enquanto o preço do minério é definido pela relação entre demanda e estoques na China, o câmbio, que poderia ajudar, e muito, no resultado das empresas é calculado entre quatro paredes em uma sala do Banco Central.
Não se iludam: não temos, nunca tivemos e nunca teremos câmbio livre. Se o câmbio está hoje apreciado, é porque o BC e o Ministério da Fazenda deliberaram que assim fosse. Se as empresas exportadoras não deslancham hoje é por pura miopia da equipe econômica. E, por favor, não me venham falar de inflação.