O mercado cai na real

23/11/2016 às 13:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:46

Ontem saiu o boletim Focus, apurado na semana passada. Mais uma vez, houve piora das expectativas de crescimento do PIB para este e o próximo ano. Trata-se da sétima semana seguida de deterioração dos prognósticos.

O Focus traz o resultado da pesquisa do Banco Central com agentes do mercado financeiro sobre o comportamento futuro dos principais indicadores macroeconômicos. Como a variável “expectativa” é da maior importância para a economia, acompanhar a pesquisa tornou-se uma experiência interessante nesses tempos de crise.

Mas, será que os analistas consultados têm de fato o dom de acertar o que virá no futuro (pela mediana de suas projeções)? Já afirmei nesta coluna que as previsões do mercado têm pouco de ciência e muito de chute. E que a própria divulgação da pesquisa determinaria a realização de seus resultados.

Quis dizer o seguinte: que quando o mercado aposta firmemente na deterioração econômica, esta tende a acontecer por força da disseminação de tal expectativa entre os demais agentes do mercado, mesmo sem um motivo objetivo para tal. E que o raciocínio contrário também é verdadeiro, ou seja, de realização do crescimento se o mercado apostar que assim será.

Mas, independentemente desse efeito de causa e consequência, o fato é que o boletim acerta, e bem, ao menos no que diz respeito ao viés. As medianas das projeções, a rigor, são muito imprecisas, mas raramente erram ao apontar a tendência, se de aceleração ou desaceleração dos principais indicadores no médio prazo: no ano, nos próximos 12 meses e no próximo ano.

Resultados
Posto isso, vamos ao que o mercado financeiro espera do PIB, inflação, câmbio, juros e outros. No conjunto, os resultados mostram a expectativa de aprofundamento do processo recessivo. Passado o breve namoro entre o mercado e a dupla Henrique Meirelles (Fazenda) e Ilan Goldfajn (BC), quando do golpe de maio, os analistas voltaram a cair na dura realidade da falta de motivos objetivos para a aguardada retomada da economia.

Quanto ao PIB, a evolução projetada da atividade econômica ao final deste ano passou para -3,40%, enquanto era de -3,22% há um mês. Para 2017, as expectativas também pioraram. O mercado prevê crescimento do PIB no próximo ano de 1%, enquanto era de 1,23% há um mês.

Quanto a produção industrial, a queda prevista para este ano passou de 6,06% para retração de 6,02%. E, para 2017, a projeção é de alta de 1,11%.

Em relação ao câmbio, a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, que pressionou todos mercados globais de moedas nas últimas semanas, também influenciou o relatório Focus, segundo qual a moeda americana estará em R$ 3,30 no encerramento de 2016, ante R$ 3,20 de um mês atrás.

E, finalmente, quanto aos juros, o mercado acredita que a Selic, atualmente em 14%, passe por mais uma redução de 0,25 ponto porcentual em 2016. Para o fim de 2017, a projeção do Focus é de 10,75% ao ano.

Resumo das expectativas: recessão neste ano, crescimento pífio no próximo, câmbio continuadamente sobrevalorizado e cortes lentíssimos na taxa de juros. Mas, o boletim trouxe ao menos um dado positivo. O mercado aposta num IPCA de 6,80% para o final deste ano e de 4,93% n o próximo, bem próximo ao centro da meta, que é de 4,5%. E porque a inflação estaria convergindo para o centro da meta? Porque não existe pressão de demanda. Ou seja, o único dado positivo da pesquisa também é fruto da crise.

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