O mercado diz que o fundo do poço é ainda mais fundo

25/10/2016 às 14:36.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:22

Sinceramente, não gosto do boletim Focus, do Banco Central, que traz as projeções futuras para os principais indicadores macroeconômicos feitas por analistas dos bancos e gestores de carteiras de investimentos. São profissionais que compõem o que se convencionou chamar de “mercado”, ou seja, pessoas que fazem dinheiro virar mais dinheiro sem precisar suar a camisa na produção. Eles trabalham (ou jogam) justamente com as expectativas futuras e, por isso, não são isentos. Além disso, são inúmeros os exemplos de erros grosseiros cometidos pelo “mercado” na mediana de suas expectativas.

Mas, bem ou mal, o boletim Focus é hoje uma referência, principalmente para a política de juro e cambial do Banco Central. Para baixar ou subir a Selic, vender ou comprar dólares no mercado futuro, o BC olha para a evolução pregressa da inflação e do nível de atividade econômica (deveria também olhar para a taxa de desemprego, mas por hora esta é uma variável menos importante), e também para as perspectivas futuras. E, para tal, usa fórmulas matemáticas de projeção dos indicadores e os palpites dos bancos.

Qual a lógica em se manter juro alto se a inflação está em queda? Não faço a menor ideia

Não gosto da pesquisa, mas a que foi divulgada ontem ganha importância porque é a primeira realizada depois que o Comitê de Política Econômica (Copom) do BC cortou o juro básico em 0,25 ponto percentual, para 14%, sinalizando que o ritmo de queda da Selic deverá ser muitíssimo lento. Vamos, então, ao que diz o último boletim Focus e como o mercado entendeu o conservadorismo do BC.

Inflação e PIB
Apontam os analistas que as expectativas para a inflação melhoraram de maneira substancial, mas que a atividade econômica deverá cair ainda mais. As perspectivas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) voltaram a piorar. A mediana das expectativas para a inflação (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA) para este ano caiu de 7,01% para 6,89%. Para 2017, a estimativa baixou de 5,04% para 5%.

Já o desempenho do PIB para o fechamento deste ano passou de uma retração de 3,19% para 3,22%. Para o ano que vem a expectativa anterior de crescimento de 1,3% foi reduzida para 1,23%.

E porque o mercado espera uma piora do PIB e uma melhora da inflação? Por conta da queda muito suave da Selic (a taxa de juro básica da economia) imposta pelo Banco Central. Agora o mercado acredita que o juro básico chegará ao final do ano em 13,5% e, ao final de 2017, em 11,25%. Se assim for, o juro brasileiro continuará sendo, de longe, o mais alto do mundo.

E qual a lógica em se manter um juro tão alto se a inflação já apresenta sinais consistentes de que entrou num ciclo de queda estruturada? Não faço a menor ideia, mas trata-se de uma política tão tresloucada que chego a suspeitar da qualificação técnica da equipe econômica de Temer, que em maio (mês do golpe) foi saudada pelo mercado como o “dream team” da economia.

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