O pacto conservador que derrubará Dilma

30/08/2016 às 13:47.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:37

Peço desculpas pelo tom de desesperança das últimas colunas. Mas, cá pra nós, alguém ainda acredita que será feita justiça no julgamento de Dilma no Senado?

Sejamos francos, o pacto conservador já é vitorioso e a estratégia está claramente definida: afastar Dilma, jogar água na fervura da “Lava Jato” e livrar a cara dos congressistas envolvidos em escândalos.

Ontem, a presidente, apesar da dificuldade que tem para falar de improviso, repetiu coerentemente todos os argumentos técnicos que afastam a hipótese de que tenha incorrido em crime de responsabilidade. E denunciou a absurda incompatibilidade entre o peso da punição e o tamanho das irregularidades que constam da peça acusatória.

Antes de ser inquirida pelos senadores, leu um discurso que ficará para a história. Um texto claro e equilibrado entre a defesa técnica e a análise do ambiente político no qual nasceu o processo de impedimento. Apesar da ameaça dos congressistas pró-impeachment de retaliar caso Dilma chamasse o golpe de golpe, ela não vacilou: “Na hora em que julgarem e condenarem uma presidente inocente, sem crime de responsabilidade, será um rotundo golpe. É um golpe integral”, disse Dilma

Pois o golpe será consumado ainda nesta semana, muito provavelmente hoje, queiramos ou não. Os senhores senadores não serão absolvidos pela história. Mas acreditam que seja melhor a condenação pela história do que pela Justiça. A maior parte, ali, acabaria na cadeia se Dilma e a “Lava Jato” prosseguissem.

A estratégia é afastar Dilma, jogar água na fervura da “Lava Jato” e livrar os congressistas

No final das contas, tudo correu dentro do previsto e tranquilamente no dia do depoimento de Dilma. Na minha opinião, tranquilamente demais.

Precificação
Se o mercado precifica o futuro, vejamos o que devemos esperar do governo do ainda interino Michel Temer. Ontem, tivemos a divulgação do Relatório Focus de agosto (leia matéria na página 10), que é a pesquisa de expectativa futura de desempenho da economia feita pelo Banco Central junto a executivos do mercado financeiro. Todos os indicadores de expectativa pioraram.

Não vou repetir todos os números, mas apenas os principais. A previsão de inflação para este ano subiu para 7,34% e, em 2017, para 5,14%.

Quanto ao Produto Interno Bruto (PIB), a expectativa é de recuo para este ano de 3,16% e, para o próximo ano, um crescimento pífio de 1,23%.

Em relação ao câmbio, o mercado espera que a cotação do dólar estará em R$ 3,29 no encerramento de 2016, e em R$ 3,45 ao final de 2017.

E, por fim, a expectativa do mercado é de uma taxa básica de juros para o fim deste ano em 13,75% ao ano e de 11,25% ao final do próximo ano.

Ou seja, o mercado aposta em uma inflação controlada, mas ainda alta, em uma retomada medíocre do PIB, na manutenção de um câmbio apreciado e de um juro gigantesco.

Tudo errado, tudo ruim. Mas dentro do esperado, sendo que a aposta do mercado é na vitória do impeachment e na manutenção do conservadorismo obtuso de Henrique Meirelles na economia.

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