Os bancos sentaram sobre uma montanha de dinheiro

04/04/2017 às 15:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:00

Vamos falar de um assunto espinhoso, mas importante. O Banco Central divulgou ontem o Relatório de Estabilidade Financeira relativo ao segundo semestre do ano passado. Em tempos normais, o relatório, muito técnico e árido, não desperta grande interesse fora do círculo dos bancos. Mas, com a depressão, o documento ganha outra dimensão.

O fato é que os bancos podem nos levar para o buraco e é preciso monitorar a saúde do sistema financeiro. O fechamento de uma empresa, mesmo grande, não gera maiores consequências do que arrastar consigo alguns fornecedores. Mas um banco, quando quebra, gera efeito em cadeia que pode arrasar um país inteiro. Lembram do Leman Brothers em 2008? Pois é, quase provocou a falência da maior economia do planeta.

O que o Relatório de Estabilidade Financeira do BC mostra é que os bancos estão bastante líquidos, mas que a rentabilidade está caindo e estão crescendo a inadimplência e o volume de “ativos problemáticos”, como os créditos em atraso ou renegociados.

É evidente que a tendência da inadimplência só poderia ser de crescimento diante das absurdas taxas de juros cobradas no país, do desemprego e da quebradeira das empresas. Mas diz o BC que a velocidade desse crescimento não é preocupante. Ok, tenho minhas dúvidas, mas não é sobre isso que quero tratar hoje.

Liquidez
O dado que mais chama a atenção no relatório é o da liquidez dos bancos, p[/TXT_COL]orque é por aí que está a porta de saída da crise. O indicador de liquidez é usado para avaliar a capacidade de pagamento dos bancos em relação a seus compromissos em um prazo de 30 dias. Quanto maior o número, mais confortável é a situação de liquidez dos bancos.

De acordo com o documento, o Índice de Liquidez do Sistema Financeiro Nacional passou de 2,10, em junho do ano passado, para 2,36 em dezembro. Esse é o maior patamar para o indicador na série calculada pela metodologia atual, que teve início em 2012.

Diz o documento que “a liquidez não é fonte de preocupação. O colchão de liquidez dos bancos, formado principalmente por títulos públicos federais, é robusto para suportar eventuais choques no curto prazo.”

Ok, mas esse índice não quer dizer muito para leigos. Vamos, então, ao que significa na prática esse “bom nível de liquidez”. Segundo o relatório, a folga no caixa dos bancos era de R$ 243 bilhões ao fim de 2016, o que representava 20% da carteira de crédito de longo prazo. Agora, um trecho importante do documento diz que “esses recursos devem permanecer em patamar suficiente para financiar um aumento do nível de concessões sem representar risco à estabilidade financeira”.

Ora, um país que deixa os bancos concentrarem em seus caixas R$ 243 bilhões, mesmo que em títulos da dívida, não quer mesmo sair da crise. Esse dinheiro deveria estar circulando há muito em forma de crédito para consumo e para investimento das empresas. Mas os bancos não querem arriscar, porque diante do desemprego e da falência das empresas, o risco de calote é grande. Então, é o governo, com seus dois bancos (Banco do Brasil e Caixa), quem deve tomar a iniciativa de fazer a roda do crédito voltar a girar.

Ao invés de vir a público dizer orgulhosamente que os bancos estão saudáveis porque concentraram toda a riqueza gerada no país, o BC deveria era se envergonhar de estar esterilizando todo esse dinheiro.

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