Os segredos do IPO da Alliar

17/10/2016 às 14:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:15

Depois da coluna que escrevi sobre a empresa mineira Alliar, publicada na terça-feira da semana passada (pode ser lida no portal do Hoje em Dia, clicando em Opinião), recebi mais algumas informações que merecem vir a público.

A Alliar está preparando seu IPO (lançamento inicial de ações, na sigla em inglês) na Bovespa. Ou seja, vai abrir capital por meio de oferta pública de ações. Será o primeiro IPO na Bovespa em mais de um ano.

A empresa atua no segmento de diagnósticos médicos por imagem. Em Minas, é conhecida pela marca comercial Axial. Trata-se de uma das maiores redes de laboratórios de tomografia e raio X do país.

Na coluna anterior, afirmei ter estranhado o fato de os principais sócios da empresa estarem vendendo a totalidade de suas ações. Se o negócio é bom a ponto de viabilizar a abertura de capital, porque venderiam tudo? Com os novos dados que recebi, a resposta começa a se esboçar.

Os sócios da Alliar são o fundo de private equity Pátria Investimentos (que detêm 25,7% do capital da empresa) e os médicos e sócios fundadores Sérgio Tufik (23,4%) e Roberto Kalil Issa (17,3%). A composição de capital se completa com outro fundo de privat equity, o Kinea (6,35%) e os sócios Geraldo Mol Starling Filho (6,15%); Cláudio Otávio Prata Ramos (5,64%) e uma parcela de 15% em circulação.

Quem embarcará na Alliar, se os próprios donos estão pulando fora do barco?

A saída do Pátria e do Kinea é explicada pelo vencimento do prazo do aporte de capital na empresa. Fundos de private equity são aqueles que colocam dinheiro numa empresa para fazê-la crescer dentro de um cronograma pré-estabelecido, com data marcada para a saída. No caso do Pátria na Alliar, esse prazo era de oito anos e está próximo do vencimento.

Mas e os outros sócios? Porque sairão? A resposta pode estar na evolução dos resultados da empresa nos últimos anos. Vamos a eles, sendo que vários não constam do prospecto da abertura de capital depositado pela empresa junto a CVM.

A empresa cresceu muito nos últimos anos por meio de compras e incorporações de outras redes de laboratórios. Esse crescimento está expresso no faturamento: R$ 141 milhões em 2011; R$ 184 milhões em 2012; R$ 276 milhões em 2013; R$ 391 milhões em 2014 e R$ 697 milhões em 2015.

Trata-se de uma evolução em velocidade espantosa, e por isso muito destacada no prospecto ao mercado da Alliar.
Mas vejamos a evolução de outros dois importantíssimos indicadores, que são ebitda sobre a receita líquida e o lucro líquido sobre a receita líquida:

Em 2011, a margem ebitda foi de 30,4%, e o lucro sobre faturameneto, de 16,3%. Em 2012, caíram para 24,7% e 15,5%. Em 2013, para 21,8% e 11,0%. Em 2014 para 16,9% e 2,8%. E, no ano passado, para 19,9% e -3,7%, já que a empresa apresentou prejuízo. Uma perda de qualidade muito significativa e, até o momento, sem dar sinal de reversão de tendência.

Ok, concordo que essa perda de qualidade é natural para uma empresa como a Alliar, que escolheu crescer estrategicamente por meio de aquisições. Quando se compra uma empresa, ela agrega o faturamento, mas também ineficiências e passivos. É preciso tempo para que ajustes sejam feitos e os resultados voltem a ganhar qualidade.

O que não entendo é como isso será feito após a abertura de capital, se todos os sócios, responsáveis pelo atual modelo de gestão e estratégia de atuação, estão saindo. E quem embarcará na Alliar, se os próprios donos estão pulando fora do barco?

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