Privatização não resolve

24/06/2016 às 08:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:01

Darei sequência hoje à coluna de ontem, sobre a pressão do governo provisório de Michel Temer para que os estados incluam a privatização de estatais no plano de renegociação das dívidas com a União. Ontem, verificamos que apenas três empresas públicas mineiras despertariam interesse da iniciativa privada: Cemig, Copasa e Gasmig. Hoje, vamos tentar dimensionar quanto valem tais empresas e o impacto de um possível programa de privatização sobre o estoque da dívida estadual.

Sabemos que a dívida total de Minas é de R$ 107,109 bilhões, e que desta, a dívida com a União é de R$ 81,557 bilhões. Já a apuração do valor das empresas não é tarefa tão objetiva. Mas é possível fazer, ao menos, um exercício de projeção, utilizando os parâmetros de cálculo usuais de mercado.

Esses parâmetros dizem respeito à expectativa futura de geração de resultado tomando por base o desempenho atual, mas também o imponderável apetite dos candidatos à compra, tendo em vista suas estratégias particulares de investimento e crescimento. De qualquer forma, a projeção aproximada não é complicada nem impossível de ser feita.

O usual é projetar o valor da empresa pela capacidade de geração de caixa, ou Ebitda. O lucro não serve como medida de valor, já que é muito volátil e influenciado pelo comportamento cíclico dos preços, demanda e rentabilidade.

Vamos, então, usar o ebitda nos nossos cálculos. O segredo é encontrar o fator multiplicador a ser utilizado, que varia em função das empresas serem ou não intensivas de capital, do tamanho da geração de caixa e da fatia de mercado detida. Todas as três estatais citadas são intensivas de capital, possuem geração de caixa na casa do bilhão e dominam amplamente os mercados em suas áreas de atuação. Além disso, são empresas de utilities, ou seja, de bens essenciais, fortemente regulados, com demanda firme e garantia de margens por contrato.

Para chegar ao fator de multiplicação, consultei dois gestores de fundos de venture capital. A avaliação é a de que as estatais mineiras valeriam algo entre oito e dez vezes o Ebitda. Dessa forma, a Cemig, que alcançou Ebtida em 2015 de R$ 4,955 bilhões, valeria atualmente algo entre R$ 39,6 bilhões e R$ 49,5 bilhões. Mas, como a participação do governo de Minas é de 17,72% no capital total da empresa, uma privatização renderia ao caixa estadual algo entre e R$ 7,0 bilhões e R$ 8,8 bilhões.

Já a Copasa, que obteve um Ebtida no ano passado de R$ 865 milhões, valeria algo entre R$ 6,9 bilhões e R$ 8,6 bilhões. E como a participação do governo na Companhia é de 51,13%, a venda renderia ao Estado algo entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4,4 bilhões. Não faço as contas para a Gasmig por ser controlada 99% pela Cemig e seus resultados já estarem consolidados ao da estatal de energia.

Então, com a venda de Cemig, Copasa e Gasmig, seria admissível a projeção de que o governo embolsaria um mínimo de R$ 10,5 bilhões e um máximo de R$ 13,5 bilhões (não incluindo um possível prêmio pela compra de controle ou o imponderável apetite dos candidatos).

Chegamos, então, ao ponto principal: se estes valores forem integralmente utilizados para abatimento da dívida pública, essa cairia apenas 10,9% no caso dos preços mínimos (para R$ 96,609 bilhões) ou 14,4% se alcançados os preços máximos de venda (para R$ 93,609 bilhões). Ou seja, abatimentos irrisórios, que não resolveriam o problema da incapacidade do governo de honrar seus compromissos com a União ou de reverter o crescimento descontrolado da dívida.

Demonstrarei isso, com números, na coluna de amanhã. 

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