Reviravolta na Usiminas

24/03/2017 às 15:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:52

O bastidor da reviravolta de ontem na Usiminas (leia matéria da repórter Tatiana Moraes ao lado) é o seguinte: Duas semanas antes da reunião de ontem do Conselho de Administração da Usiminas já circulavam informações dando conta de que a Ternium preparava nova cartada contra o presidente da empresa, Rômel Erwin de Souza, representante da Nippon Steel. Os boatos me chegaram por duas fontes diferentes. Não publiquei porque, até então, eram apenas boatos.

Ontem veio a confirmação. Durante a reunião, que tinha pauta protocolar, o representante dos acionistas minoritários, Francisco Augusto Costa e Silva, questionou duramente o presidente Rômel por ter assinado, sem a devida autorização ou conhecimento do Conselho de Administração, um memorando de entendimento com a Mineração Usiminas (Musa) e a japonesa Sumitomo (sócia da Usiminas na Musa) estabelecendo os termos de renegociação dos contratos de fornecimento de minério para a siderúrgica.

O documento teria sido assinado por Rômel em maio do ano passado e foi engavetado. Foi descoberto seis meses depois, durante o curto período de quatro meses em que Sérgio Leite, apoiado pela Ternium, assumiu a presidência da empresa, até ser destituído para a volta de Rômel. E só agora levado à discussão no Conselho de Administração.

Sai Rômel, volta Sérgio Leite. E o caminho lógico é nova judicialização na briga entre os sócios

Em condições normais de temperatura e pressão, a assinatura de um memorando de entendimento, que não é contrato definitivo, sem conhecimento do Conselho de Administração, poderia ser motivo para um puxão de orelha. Mas o clima é de guerra entre os sócios controladores, e o que poderia se restringir a censura virou destituição. Rômel foi tirado do cargo por voto da maioria dos conselheiros da empresa por descumprimento do dever de diligência, quebra de confiança e gestão temerária.

O fato é que o relacionamento de Rômel com os membros do Conselho de Administração da empresa vinha se deteriorando há alguns meses. As reclamações de falta de diálogo e as críticas ao modelo de gestão autocrático, feitas pelos três representantes da Ternium no Conselho, passaram a ser encampadas pelos minoritários e representantes da CSN. Rômel estava isolado e de algum tempo para cá contava apenas com o apoio dos três representantes da Nippon. Esse estranhamento ficou claro na votação de ontem, em que sete conselheiros votaram pela destituição. Rômel teve quatro votos, três deles dos representantes da Nippon e um da Previdência Usiminas (representante dos empregados).

O encaminhamento lógico do imbróglio, a partir de agora, é nova judicialização do processo, da mesma forma como foi na destituição de Julián Eguren (apoiado pela Ternium) e eleição de Rômel (em setembro de 2014); da eleição de Sérgio Leite (apoiado pela Ternium) que tirou Rômel da Presidência pela primeira vez (em maio de 2016); da decisão judicial de destituição de Sérgio Leite e retorno de Rômel (em outubro de 2016); e agora dessa nova destituição de Rômel e retorno de Sérgio Leite decidido pelo Conselho.

Logicamente, os japoneses da Nippon argumentarão que a retirada de Rômel, ontem, foi ilegal e contrária ao acordo de acionista, que diz que qualquer tomada de decisão relevante na empresa deve se dar por consenso entre os sócios controladores. E a Ternium, que a assinatura de pré-acordos comerciais sem conhecimento do Conselho de Administração é uma ilegalidade que justifica a destituição.

Se não formos surpreendidos por um acordo entre as partes, ou pela decisão de divórcio entre Nippon Steel e Ternium, é certo que a novela da briga entre os sócios seguirá mais alguns capítulos na Justiça.

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