Uma fábula política

21/03/2017 às 21:21.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:50

Há muitos anos, em um país distante, os mentores de uma operação da Polícia Azul para desmantelamento de uma rede de corrupção, instalada desde sempre na máquina pública federal, estabeleceu um pacto com os grandes grupos da mídia azul para a divulgação de vazamentos seletivos que buscavam desestabilizar o Governo Vermelho.

As operações e alvos eram vazados antecipadamente para que os grandes jornais e redes de televisão azuis tivessem tempo de se preparar para a cobertura do dia seguinte, seguindo a linha pactuada com a Justiça e a Polícia azuis de mirar prioritariamente o Governo Vermelho.

Também eram vazados seletivamente trechos de conversas telefônicas grampeadas e de depoimentos de presos e indiciados, com o mesmo objetivo de fazer balançar o Governo Vermelho. Todas as gravações deveriam estar sob segredo de justiça, mas como a comunicação era um monopólio azul, questionamentos vermelhos eram prontamente abafados.

Acontece que quando a investigação se aproximou do ex-presidente vermelho e os agentes da polícia azul preparavam o bote, um blog vermelho conseguiu por vias tortas, mas não ilegais, acesso às informações da operação que haviam sido vazadas apenas para a mídia azul.

O blog vermelho, então, publicou antecipadamente todas as informações, com o objetivo de denunciar o pacto entre Justiça, Polícia e mídia azuis. A Polícia Azul ficou numa tremenda saia justa e desistiu do planejado, que era conduzir coercitivamente o ex-presidente vermelho da cidade onde morava para outra longínqua, no sul do país, onde ficava o quartel-general azul. Depois de entrar naquelas masmorras, já nas garras dos agentes da Polícia Azul, dificilmente o ex-presidente vermelho sairia.

Surpresos com o vazamento do vazamento, os policiais e juízes azuis ficam confusos e paralisados. O ex-presidente já estava em suas mãos, mas os vermelhos, alertados sobre a operação, correram em seu socorro. Envergonhados e indecisos, os policiais azuis levaram o ex-presidente vermelho para o aeroporto, mas não o embarcaram no avião que o levaria ao quartel-general azul. Submetem-no a meia dúzias de perguntas no próprio aeroporto e o liberaram.

Então, a Justiça e a Polícia azuis esperaram pacientemente por 11 meses para que os fatos se distanciassem. Num belo dia, bateram à porta do tal blogueiro vermelho e levaram-no coercitivamente para uma tomada de depoimento.
Vasculharam suas gavetas e apreenderam seus computadores. Queriam saber como obtivera as informações sobre a operação contra o ex-presidente vermelho. Mas Tudo não passava de encenação. Se quisessem saber a origem dos vazamentos só precisariam ler o blog vermelho, onde o tal blogueiro havia escrito:

“Acredito que posso ajudar a Lava Jato oferecendo a ela provas de que quem vazou sua 24ª fase foi ela mesma. Na noite de 24 de fevereiro, este Blog foi informado de que toda a imprensa paulista já tinha cópia da decisão, emitida pelo magistrado Sérgio Moro no dia 23 de fevereiro de 2016.

Por diversas vezes, na entrevista, o delegado e o promotor se queixaram dos ‘vazamentos para blogs’. Para blogs uma conversa, foi para este Blog. E o vazamento só ocorreu porque toda a imprensa de São Paulo – e este blog suspeita que também a do Rio, porque a Globo não ficaria de fora – recebeu cópia da decisão do juiz Moro.

Aliás, chega a ser ridículo que a Lava Jato, que se caracteriza por vazamentos incessantes desde a sua primeira operação, venha agora reclamar de ‘vazamentos’. Todas as ações da Operação foram antecipadas pela grande imprensa. Até nomes de investigados sob segredo de Justiça vêm sendo sistematicamente vazados, contanto que sejam petistas ou aliados do PT. Eis, portanto, uma oportunidade perfeita para que esses vazamentos ilegais sejam combatidos.” (Eduardo Guimarães, blogdacidadania.com.br)

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por