Como passei em 16 concursos?

22/04/2017 às 19:19.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:14

Depois de 21 anos dedicados à segurança pública, tendo pertencido à Polícia Militar, à Polícia Civil e à Polícia Federal, decidi me aposentar. Na solenidade de despedia refleti sobre as histórias que todos nós, policiais, coletamos para contar aos netos. Para mim, as melhores histórias são dos dez anos de trabalho em processos disciplinares. Sugeri punição em alguns casos e absolvição ou arquivamento em outros. Mas nenhum colega “virou a cara” ao final de um procedimento.

Agora dedicarei meu tempo ao magistério e à advocacia. Mas, por não ter prestado o exame da Ordem, deparei-me com o provimento 144/2001 do Conselho Federal da OAB, que permite a inscrição sem o exame somente aos juízes e promotores. Nada mais razoável. Afinal, a exigência de avaliação seria uma forma indireta de questionar os atos processuais de tão dignas autoridades.

Mas não vejo razão para não estender o mesmo raciocínio aos delegados. Assim, minha primeira ideia foi a de propor uma ação judicial. Depois, pensei: se a OAB quer que eu demonstre mérito, irei demonstrá-lo.

Ocorre que, depois de 21 anos de formado, muitos conteúdos jurídicos haveriam de ser rememorados. Por outro lado, minha condição de delegado federal, professor de Direito e autor de um livro sobre dicas de como passar em concurso redobrou minha responsabilidade. A reprovação poderia representar uma mácula nessa trajetória.

Assim, ciente de que sem preparação viria o fracasso, regressei à condição de aluno numa escola preparatória. Fiz anotações, revisei conteúdos aparentemente fáceis, estabeleci horários para estudar e repousar. Não me esqueci de dar atenção à família. As manifestações de apoio, ao contrário do que geralmente ocorre com os jovens, não vieram dos pais, tios e avós; vieram da minha esposa e dos meus filhos.

Na 2ª fase do exame, que consiste numa prova de questões abertas, não consegui me desvencilhar da frase “eu tenho que passar”. Pensando na minha trajetória, essa frase me acompanhou o tempo todo. Na hora da prova, sem tempo de elaborar um rascunho, minha redação ficou péssima e com várias ressalvas, num texto truncado e confuso. E veio a reprovação.

No exame seguinte, como a OAB vem permitindo o aproveitamento da aprovação anterior na primeira fase, concentrei os estudos para a prova aberta. Restabeleci a necessária serenidade e substituí a frase “eu tenho que passar” por “eu tenho que fazer a prova”. Resultado: fui aprovado e, na última segunda-feira, recebi solenemente minha carteira.

A lição que fica: não tenha medo do fracasso. Quem é dominado por esse medo já está derrotado. Eu venci esse medo. E o resultado é que, para a próxima edição, meu livro já tem outro título: “Como passei em 16 concursos?

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