'Fair play' nos concursos

22/04/2017 às 20:11.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:14

Um dos mais conceituados cronistas esportivos de Minas assim resumiu os lamentáveis episódios da última quinta-feira em Buenos Aires, durante a partida entre Boca Juniors e River Plate: “Um clássico – um vexame”.

Esse torcedor que disparou “spray” de pimenta, causando queimadura em vários atletas, deve ser um saudosista dos tempos em que as estações de TV, as câmeras de celular e as redes sociais não captavam tantos detalhes dentro e fora das quatro linhas do gramado. De fato, houve um tempo em que as disputas futebolísticas eram marcadas pela deslealdade. Tanto que, na Copa de 1966, um grupo de atletas, inclusive o Rei Pele, ameaçou sair da disputa caso a FIFA não coibisse os atos de pura violência.

Os que se achavam mais esperto tinham um jeitinho de irritar e agredir o adversário. Afinal, mesmo com o advento da televisão, era difícil a percepção de detalhes como ofensas verbais, pregos nos cravos da chuteira e alfinetes escondidos na camisa para aquelas “espetadinhas” básicas. Mas, nos dias de hoje, cada torcedor, com seu celular, virou um cinegrafista.

Essa nova realidade, aliada ao espírito desportivo das entidades organizadoras do futebol, tem produzido ótimos resultados. É o caso, por exemplo, da perda de pontos da equipe, cujos torcedores promovem injúrias raciais. Agora já se fala até em “fair play” financeiro, com a possibilidade de uma equipe perder pontos, caso não cumpra suas obrigações trabalhistas, previdenciárias e tributárias.

Tudo isso, que é novidade no futebol, já vem sendo praticado há décadas nos concursos públicos e, de modo ainda mais destacado, nas licitações. Os modernos recursos de informática dão eficiência aos controles das atividades de empresas participantes de uma concorrência, por exemplo.

As provas dos concursos são rodeadas de sigilos. Os candidatos devem cumprir normas que impedem o uso de “cola” eletrônica. Ainda assim, costumam surgir notícias de fraude. Mas há um detalhe importante: elas são descobertas, o que não ocorria antigamente, devido à precariedade das tecnologias de controle.

Então, seja no futebol, nas licitações ou nos concursos, a melhor estratégia é o “fair play”. É isso que o infeliz torcedor do Boca Juniors deveria entender. Causar queimadura no adversário é admitir que ele é melhor e que, portanto, para ser derrotado, deve ser tratado com deslealdade.

Do mesmo modo, vencer uma licitação ou passar num concurso mediante fraude é admitir a própria incompetência. E, se isso não bastar, uma simples filmagem é prova suficiente para excluir sumariamente o fraudador da disputa. E não pára por aí: também pode ser prova para sua prisão em flagrante.

O melhor mesmo é vencer pelo mérito. Então, leitor, pratique o “fair play” nos concursos e em todas as disputas que você enfrentar.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por