Tudo começou com um protesto contra o aumento das tarifas dos ônibus. E os jovens perceberam que tinham forças para reivindicar muito mais. Queremos mais investimentos em saúde e educação, queremos o fim da impunidade e da corrupção... Mas alguém viu algum cartaz contra os concursos públicos? Certamente que não. Ao contrário: reivindicando eficiência do Estado, os jovens esperam a contratação de mais médicos, mais policiais, mais professores, etc.
Sem tomar posição ideológica, é inegável que, em alguns setores públicos, o quadro de funcionários está abaixo do mínimo. O site www.jus.com.br informa a proporção de 12.967 habitantes por juiz no Brasil. Em Portugal a proporção é de 6.600. Países como Cuba, Itália, Uruguai e Alemanha têm um médico para, no máximo, 300 habitantes. No Brasil a dose é amarga: 900 habitantes por médico (fonte: www.profissaogeografoblogspot.com). De acordo com o Núcleo de Estudos da Violência, no Paraná, há um policial para 669 habitantes. A ONU recomenda 250.
Alguém poderia argumentar que a tecnologia pode garantir eficiência. Mas as máquinas não têm um atributo essencial: bom senso. Um exemplo: quando estive em Barcelona, falei com um amigo que eu não deixaria de usar o cinto de segurança para que ele, dono do automóvel, não fosse multado. Em resposta ele disse que, em caso de multa, a polícia a enviaria para mim.
- Como farão isso, sem me identificarem?
- Você acha que não te fotografaram no serviço de migração? O banco de dados da polícia permite a sua identificação sem sequer te abordar. Deixe de usar o cinto para ver o que acontecerá quando você estiver saindo do país.
Uma tecnologia como essa pode ter a autonomia de multar alguém, sem a análise de um funcionário? Claro que não. A máquina nos ajuda muito, mas nunca nos substituirá. É por isso que os jovens, reivindicando eficiência do Estado, esperam mais contratações. O modo mais justo de fazê-las é por meio de concurso. E, com todos os problemas do Brasil, os casos de fraudes em concursos são raros e apurados com rigor. Eles não são, ainda, perfeitos. Mas, sem eles, o nepotismo tomaria conta da administração pública.