A identidade de um povo

05/04/2017 às 19:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:01

Em edição de 2017, Pedro Sérgio Lozar entra em cena em Belo Horizonte com seu “Miscelânea”, em que o conceituado estudioso de nossa língua oferece um panorama de sua versatilidade. Já na página em que publica a ficha catalográfica, ele adverte “Não se segue inteiramente o último “acordo ortográfico”, que ele cita entre aspas. 

Deduz-se, portanto que se farão reparos à última revisão de nossa ortografia, um laborioso parto de que não se auferem bons resultados. Claro que, em se tratando de miscelânea, há muitos temas incluídos na edição, o próprio autor financiou. Em verdade, deve-se apontar no volume uma série de assuntos de amplo interesse, entre os quais o conto “Taís”, revelador do talento do autor na ficção, e temas de alto interesse histórico, como focalizando Marília de Dirceu e Bárbara Heliodora, além do episódio da fuga de Luis XVI de Paris, e a versão ao russo da poesia de Gonzaga.

Lozar é severo, e tem razão em determinados aspectos e sobre nossa língua. Diz: “O que está ocorrendo, porém, entre nós já não é influência estrangeira, mas substituição da nossa língua por outra. A Invasão do estrangeirismo vem descaracterizando a língua pátria. Palavras ou expressões vernáculas são rejeitadas em favor de outras que não têm história no idioma, não têm conteúdo afetivo, não fazem parte do nosso sistema ortográfico ou prosódico: adoção forçada, contrária ao processo natural da assimilação de termos alienígenas”.

Em outro trecho, o escritor afirma que “dá engulho ouvir locutores se espremendo para reproduzir, e mal, sons alheios ao nosso sistema fonético, como se fosse ponto de honra, ao tentarem pronunciar palavras estrangeiras: só pode ser, naturalmente em retribuição ao cuidado que os estrangeiros mostram em articular corretamente as nossas palavras.; E a resistência em aportuguesar as grafias estranhas só é explicável pela mentalidade de colônia da qual ainda não nos livramos. 

Porque o brasileiro sofre de incoercível complexo de inferioridade”. 

Realmente, o assunto ainda não foi tratado em suas devidas dimensões, mas Lozar o fez com muita ênfase e coragem. Para ele, parece “ser adiantado, bonito, moderno usar palavras de fora, arremedo que já atinge os extremos do ridículo”. 

Qualquer um introduz vocábulos importados, absolutamente dispensáveis, quando temos no nosso vocabulário termos perfeitamente utilizáveis. “Como se a língua nacional mal fosse insuficiente para o nosso entendimento, vemos relatórios, balanços, convites, textos inclusive oficiais apresentados de forma bilíngue, ou mesmo com exclusão do português, qual se não tivéssemos idioma próprio e não obrigação da pessoa, nativa ou não, vivendo no Brasil, saber a língua do país”. 

Condenado o uso de “expressões vertidas à letra como “loja de conveniência”, “ajuda humanitária”... Convite para coffe-break é impagável: convite para intervalo. Paraolímpico, então, é o cúmulo”

Como nas antigas fábulas, vai o moral da história: “Não admitimos simplesmente, mas sim proclamamos com orgulho a nossa inferioridade em relação a outros povos’. 

O que mais assusta e preocupa é a mentalidade que está por trás deste quadro. 
 

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