A leitura libertadora

01/09/2017 às 19:38.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:22

Uma reunião diferente na Academia Mineira de Letras, com a presença de sua presidente Elisabeth Rennó, de Marlene Guzella, da Arcádia de Minas Gerais, Helena Paulinyi, da Academia Feminina Mineira de Letras, e das professoras doutoras da PUC Ivete Walty, pesquisadora das relações entre a literatura e o encarceramento, e Daniela Lopes, que desenvolve trabalho ligado às letras na Apac de Santa Luzia, na Grande BH. Também os acadêmicos Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, secretário de Estado da Cultura, Olavo Romano, Márcio Sampaio, Rogério Faria Tavares, Yeda Prates Bernis e Carmen Schneider Guimarães. 

Compareceu a senhora Carolina de Oliveira Pimentel, presidente do Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social), entidade que presta valiosos serviços no campo em que se propôs atuar. Ela expôs que o projeto, para o qual pediu apoio da Academia, é o Roda de Leitura, que visa estimular o hábito de ler e abrir janelas a pessoas detidas, para que reflitam sobre um futuro melhor, um futuro para o qual não tiveram oportunidade talvez e que se quer conquistar. O propósito, aliás, é consentâneo com o pensamento e o propósito do escritor e jornalista José Eduardo Gonçalves, curador do Festival Livro na Rua, um outro belo projeto, por sinal. Diz ele: “Entendemos que a leitura tem um papel civilizatório na construção de uma sociedade, na construção de uma cidade e de um mundo melhores”.

A Academia vai contribuir com o programa do Servas, a ser ampliado a mais oito unidades de Minas a partir de agora: os presídios José Maria Alkmim, Antônio Dutra Ladeira, Inspetor José Martinho Drumond e José Abranches Gonçalves, em Ribeirão das Neves; Professor Jason Soares Albergaria – Bicas 1 e 2, em São Joaquim de Bicas, além do Complexo Penitenciário Feminino Estêvão Pinto, no Horto, em Belo Horizonte. 

O pensamento vai além de oferecer as Rodas de Leitura, durante quatro meses, com os escritores ou com voluntários. Cuida ainda de deixar uma coleção de trezentos livros nas unidades, para o que deverão colaborar também os acadêmicos. Segundo Patrícia Velloso, gestora do projeto, ele “tem sido muito significativo para os detidos, e o entusiasmo dos detentos, por exemplo, da ala LGBT, em Vespasiano, surpreendeu pelo sucesso”. Um dos detentos, além do livro que portava, levou um outro de poesia e quis ler, em voz alta, para todos os que lá estavam. Eles pedem mais obras para leitura e acredito que sentirão muita falta se a ideia não tiver continuação”.

Para a presidente do Servas, “esta é uma atividade que, além de prazerosa faz descortinar horizontes, ampliando a capacidade de reflexão de todos os que dela se ocupam. Num presídio, ler é muito importante já que o conhecimento, nesse caso, é literalmente libertador”. 
No período extremamente difícil por que passa o sistema prisional do país, muito grande e complexo, merece atenção o trabalho do Servas, que procura – antes e acima de tudo – enxergar que há um outro, um ser humano, possivelmente recuperável, no detento de hoje. 

O livro não é apenas instrumento de informação para quem está restrito ou carente de liberdade. Mais dia, menos dia, o detido estará de volta à sociedade. Temos de contribuir para que volte, melhorado em conduta de vida e ser bem acolhido pela comunidade que o afastou. 

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