Caminhos para a Ásia

18/05/2018 às 18:36.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:55

Frequentemente, se renova a pergunta: o Brasil é um país sério? A dúvida encontra explicação nos fatos diários vivenciados. Recordo, por exemplo, a notícia que li em 27 de maio de 2015, procedente de Londres. Reportava à ferrovia que a China construíra na América do Sul.

A estrada começaria no Rio de Janeiro, Atlântico portanto, atravessaria a floresta amazônica e a cordilheira dos Andes, terminando na costa peruana.

Segundo o jornalista Gerardo Lissandy, o projeto ganhou impulso com visita do premier chinês Li Reqiang à América do Sul, quando esteve com a presidente Rousseff. Foram assinados 35 acordos de cooperação com o Brasil, englobando áreas como planejamento estratégico, transportes, infraestrutura, energia e agricultura.

Muito entusiasmo entre os representantes do Brasil e da China, argumentando-se que, com a ferrovia, “um novo caminho para a Ásia se abriria, reduzindo distancias e anseios”. Para Kevin Gallagher, professor da Universidade de Boston e autor de estudos sobre as ligações China-América Latina, “seria uma grande conquista e uma peça-chave da relação do país asiático com o hemisfério sul da América...Se esse projeto realmente sair do papel”.

A ressalva tinha suas razões, embora tudo indicasse a efetiva conveniência e importância do empreendimento. “Há uma lógica econômica por trás do projeto”, disse João Augusto Castro Neves, analista de consultoria, já que, nos últimos anos, as relações entre a China e o Brasil têm sido muito focadas no aspecto comercial, com o aumento das exportações de produtos como soja e ferro para a gigante asiática. 

Transcorridos dois decênios, todavia, silêncio. Sabe-se que a iniciativa exacerbara as já tensas relações entre Peru e Bolívia, cujo presidente Evo Morales protestou ao saber que a estrada passaria fora do território boliviano. De seu lado, em Lima, Ollanta Humala estrilou.

Até maio de 2018, a situação sofrera profunda transformação. A presidenta deixara o Executivo brasileiro, Humala não está mais no governo peruano, acusado de corrupção. Castro Neves já advertira que havia desafios de engenharia e custos para possibilitar um transporte a Cordilheira dos Andes e desembocar no Pacífico. Se não houvesse planejamento adequado, o projeto terminaria paralisado, como outras grandes promessas de investimentos na região. Tinha razão, como se vê.

A questão, como se admitira, não era simplesmente de injetar dinheiro. Falharam completamente as perspectivas. Longe está a perspectiva de se pôr em operação um trem de alta velocidade, que facilitasse o comércio com a América Latina, de um modo geral, não apenas para servir ao Brasil e a China, sem prejudicar o meio ambiente. A China, que já avançou expressivamente seus negócios com o hemisfério sul-americano (observe-se a concorrência que determinados produtos chineses fazem no mercado brasileiro), perdeu a ocasião de se tornar a “queridinha da América Latina”. Pelo menos, por enquanto.

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