Cataguases sempre presente

28/03/2017 às 14:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:55

Foi aberta, em 18 de março, no Centro Cultural Humberto Mauro, a exposição VERDE, 1927-2017, para registrar o nonagésimo aniversário da revista, que inseriu definitivamente Minas na vanguarda das novas ideias que começavam a revolucionar as artes no Brasil no século passado. A Semana da Arte, em São Paulo, em 1922, assinalara o ponto de partida do movimento que surgia e consagraria nomes hoje consagrados.

Mas quando apareceu a revista no interior do Brasil, na sóbria Minas, até as capitais estranharam. “Todo mundo foi ao mapa, roçou o dedo pela superfície (do mapa), procurando, tateando os olhos, até achar: Cataguases”, como escreveu, entusiasmado, o poeta paulista Ribeiro Couto, em 1928. Sua opinião estava no número quinto da publicação fundada no ano anterior, e logo transformada em baluarte do movimento modernista nas montanhas. Logo nas montanhas!

Para festejar os 90 anos, poetas da pujante cidade da Zona da Mata Mineira organizaram a exposição, com apoio da Fundação Ormeo Junqueira Botelho e organização e arte de Joaquim Branco. P.J. Ribeiro, Ronaldo Werneck, Eugênia Branco, Natália Tinoco e Augusto Marquito.

É uma iniciativa que Cataguases devia e agora paga, com júbilo. Por coincidência, este é o quadragésimo ano do falecimento de Rosário Fusco, uma das mais vigorosas expressões da ficção brasileira no século findo, mas não celebrado quanto deveria.

Cronologicamente, o mais velho do grupo de poetas de Cataguases foi Enrique de Resende (1896- 1973), que Drummond classificou como “companheiro de geração”, todos beneficiários da Semana de 22. Eles firmaram em Minas Gerais uma espécie de segunda geração modernista, deixando de lado exageros e a iconoclastia dos paulistas. Depois, vieram – dentre outros- Francisco Marcelo Cabral e Lina Tâmega Del Peloso, já da geração de 30, o terceiro tempo em Cataguases.

Em seguida, já cultivando o poema visual gráfico, surgem Joaquim Branco, P.J Ribeiro e Ronaldo Werneck, já dos anos 40, que se julgaram na obrigação de comemorar agora os 90 anos da “Verde”. 

Rosário Fusco (dele falava meu pai, no distante sertão) se localiza em outro espectro, embora mereça lugar de destaque nas letras mineira. Nascido em 1910 e falecido aos 67 anos, não logrou reconhecimento, a não ser de admiradores de carteirinha.

Assim, para Luiz Ruffato, Fusco – romancista, ensaísta e poeta – “enquadra-se naquele limbo em que encontramos os escritores injustiçados da literatura brasileira”. Daí, em boa hora, Ronaldo Werneck decidir oferecer o excelente “Sob o signo do imprevisto”, que nos brinda com recortes de momentos específicos, que, vistos em conjunto, formam um mosaico capaz de nos revelar a grandeza deste personagem intenso, polêmico e essencial”. 

Em resumo, “são lembranças, memórias, evocações e confissões com que Werneck, com sua enorme capacidade de fazer convergir objetividade e subjetividade no mesmo espaço textual, edifica um monumento em tributo a Rosário Fusco”.

Em meio ao tumulto dos agitados dias atuais, é algo muito importante para se conhecer. O personagem Fusco e seu tempo estão vívidos nas paginas do novo livro.

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