Eça de Queiroz e o Brasil

19/12/2017 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:19

Está circulando a 18ª edição a Revista Magiscultura, semestral, com excelentes colaborações de membros da magistratura mineira na ativa ou aposentados. Homenageado desta vez, Silviano Santiago, aplaudido escritor nascido em Formiga, sobre o qual nos manifestaremos, com alegria, em próximo comentário. Por ora, ficamos com o desembargador Gutemberg da Mota e Silva, que apresenta esplêndido ensaio sobre Eça de Queiroz sob título “De agitador a escritor muito amado no Brasil”. 

Eça foi, e é, incontestavelmente, um dos autores portugueses mais conhecidos, apreciados ou criticados do lado de cá do Atlântico. Sua família se insere entre as mais nobres de Portugal, pela origem real, o que se depreende das próprias armas do nome. Provém de Dom Pedro I, de Portugal e de Inês de Castro, o que materialmente correspondeu a terras, jurisdições e rendas a partir de 1360.

O escritor, nascido em Póvoa de Varzim, em 25 de novembro de 1845, tem bibliografia vastíssima e foi traduzido para o espanhol, francês, inglês, alemão, italiano, checo, russo e polonês, merecendo larga atenção da crítica e dos biógrafos. Atesta-o o desembargador Gutemberg, no ensaio ora publicado, que extrapola as dimensões de artigo.

“No Brasil, que lê pouco, ninguém deixou pelo menos de ouvir falar em “O Crime do Padre Amaro”, ”A Ilustre Casa dos Ramires”, “O Mandarim” ou “Os Maias”. Sofrendo tuberculose intestinal, que o levou a óbito em 1900, Eça é tido como um dos mestres do realismo. Para ele, contudo, o mundo só vale pelo homem, sendo os valores solenes da natureza “menos merecedores de nossa admiração consciente do que o cérebro de um simples oleiro”.

Eça influenciou a opinião pública do Brasil, daí as críticas que frequentemente se fazem sobre suas posições com relação a seu tempo, sua pátria e ao Brasil. Lembro, por oportuno, já que o aniversário da proclamação de nossa República foi comemorado no mês passado, o que ele escreveu e publicou sob pseudônimo de João Gomes, na “Revista de Portugal”, em dezembro de 1889. 

Disse ele: “Com o império, segundo todas as probabilidades, acaba também o Brasil. Esse nome do Brasil, que começava a ter grandeza, e para nós portugueses representava um tão glorioso esforço, passa a ser um antigo nome da velha geografia política. Daqui a pouco, o que foi o império estará fracionado em repúblicas independentes, de maior ou menor importância. Impelem a esse resultado a divisão histórica das províncias; as rivalidades que entre elas existem; a diversidade de clima, do caráter e dos interesses; e a força das ambições locais... Os Deodoros da Fonseca vão-se reproduzir por todas as províncias. A América do Sul ficará toda coberta com os cacos de um grande império”. 

A despeito de tudo, a previsão de Eça falhou, embora repercutisse perigosamente por aqui, como observa Mônica Figueiredo, referida pelo ilustre magistrado mineiro. A autora diz que “as corrosivas páginas de “As Farpas” (livro de Eça) acabaram por atingir de maneira perigosa a integridade física de muitos portugueses.

“No interior de Pernambuco, a comunidade lusa foi transformada em alvo de um xenofobismo que atacava emigrantes em nome dos brios nacionais”. Tais críticas, “consumadas com sofreguidão pelo público do Brasil evidenciaram“ a profunda rede de ressentimentos sobre a qual se tinham erguido as relações luso-brasileiras no Brasil do segundo império”: É tema pouco focalizado. 

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