Enéas, o catarinense

19/05/2017 às 16:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:37

Em nível nacional, o assunto que predomina é a operação Lava Jato, que envolve o maior escândalo na área da administração pública brasileira. Quanto a isso, não há qualquer dúvida, mas o Brasil, tão grande, não parou.

Paralelamente à ampla divulgação do noticiário sobre o descalabro, as “coisas” andam, não tão bem como se desejaria, devagar quase parando, mas não interromperam o curso. Assim, neste 2017, transcorrido apenas um quadrimestre, Enéas Athanázio, o aplaudido escritor de Santa Catarina, completa excelente saldo: 50 livros e 14 opúsculos individuais publicados. 

O que me chama a atenção é que tão bons autores não cheguem, como devido, às mãos dos leitores de todo o território, não conquistando a popularidade de outros autores, embora também de qualidade. É evidente que se compreendam as dificuldades para que toda a produção nas letras alcance o grande público. Assim, como os filmes, a produção literária sofre dos óbices da distribuição. O que explica, mas não justifica.

Enéas, promotor de Justiça, aposentado, advogado e escritor, residente no Balneário Comburiú (SC), instalou ali seu bunker, de que se afasta para suas viagens por todo o Brasil. Seus livros contêm a descrição clara, lúcida, ilustrativa, do que viu e sentiu nas andanças, fazendo o leitor segui-lo em interessantes excursões. Em síntese, ajuda-nos a percorrer o Brasil, sem que saiamos de casa ou do escritório. Fica mais barato e o público tem um documento à mão. 

O volume 3 de “O perto e o longe” e “A conquista – Novela e Crônicas” contêm amostras bem representativas da produção literária de Enéas Athanázio. Aliás, ele nada tem a ver com o outro, o Enéas Carneiro, falecido médico e político, que ousou candidatar-se à presidência da República, foi deputado federal e dono de um partido. O escritor classificou-o como figura folclórica.

Athanázio não perdoa: “Foi mais um político sem programa, dentre tantos, mas gritava, a plenos pulmões e com cara de poucos amigos, o bordão que celebrizou: “Meu nome é Enéas”.

Pouco antes de falecer, diagnosticado com mal incurável, Enéas, o Carneiro, livrou-se dos bigodes e barbas que aureolavam seu rosto diante das câmeras de tevê. O fim, todavia, foi o de todos nós, mortais; mesmo o dos imortais das academias.

Athanázio raciocina sobre o aplauso. “No campo das letras – não é barulhento, vem quieto e lentamente através da análise crítica dos entendidos e da aceitação dos leitores. Mas exige espontaneidade. Deve nascer do sentimento do público ou do leitor, sempre de maneira natural, sem provocação alguma, partindo do conjunto das pessoas e endereçado ao artista. O aplauso provocado perde o sentido, falseia a realidade e nada significa”.

Não há como fugir. Em todas as atividades, há a maneira honesta de fazer o elogio, mas também o ludibrio e pessoas que se prestam a ele. Há até as claques, não restritas às salas de teatro, aos auditórios interessados em música popular, ou até clássica, aos comícios e outras reuniões políticas. Athanázio percorre o caminho correto. E um escritor de altos méritos, e chega.
 

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