Francisco vai aos coptas

27/04/2017 às 19:46.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:19

Novos atentados contra cristãos coptas no Egito em abril, o mês da Páscoa. Enquanto a comunidade orava a Jesus por sua paixão e morte, em Jerusalém, dois séculos antes, o país norte – africano sentia os efeitos da intolerância e fanatismo.

Até o século V, a Igreja de Alexandria, a que pertencem os coptas, representou no mundo cristão um papel pouco inferior à de Roma, o que se pode medir pela importância de nomes como Orígenes, Anastácio e Cirilo. 

A história copta é um belo campo para estudo, até porque sua língua, falada pelos antigos egípcios, é utilizada até hoje na sua Igreja, nos cantos religiosos e nas orações.

Sedentários, econômicos e muito prolíficos, monogâmicos, os coptas habitam aldeias inteiras do baixo Egito e sobretudo no Alto Egito. Recusando submeter-se ao concílio de Calcedônia, em 451, sobre o problema da união da natureza divina e humana em Cristo, separou-se da Igreja de Roma, mas continuou de mãos dadas. 

No primeiro atentado, neste abril, em uma igreja em Tawta, a 120 quilômetros do Cairo, 27 pessoas morreram e 78 ficaram feridas. A explosão foi nas primeiras filas, perto dos altares, durante a missa. Imagens divulgadas por rede privada de televisão mostraram o chão e as paredes brancas do templo cobertas de sangue, assim como os bancos de madeira destruídos. 

O ato criminoso do grupo terrorista Estado Islâmico se dá meses após seu braço sírio convocar o ataque aos “infiéis, ou apóstatas, no Egito e em toda parte”, forma de referir-se à comunidade copta. 

Antes, outro atentado na igreja de Alexandria, deixou o saldo de 17 mortes e 49 feridos. Um indivíduo com um cinturão de explosivos detonou a carga, ao ser impedido de permanecer no templo de São Marcos. O líder copta, Papa Teodoro II, que participara das celebrações de Domingo de Ramos, abandonara a Igreja pouco antes da detonação. 

O duplo crime adverte para o que poderia acontecer, considerando que Francisco prometeu visitar os coptas do Egito, hoje e amanhã. Ao conhecer a tragédia, o pontífice enviou ao líder religioso do outro lado do Mediterrâneo, uma mensagem: “Ao meu querido irmão, sua Santidade, o Papa Teodoro II, à Igreja copta e a toda a nação egípcia, expresso meu profundo pesar”.

Enquanto o Oriente Médio crepita diante da troca de ameaças, desencadeada principalmente a partir do ataque dos mísseis de Trump à Síria, Francisco não se intimida. Da sacada do Palácio Pontifical na Praça São Pedro, manteve a decisão de, no final deste mês, visitar Teodoro, no Egito. Participará certamente das mais antigas cerimônias e ritos primitivos do cristianismo. 

O velho idioma copta não é mais falado como nos velhos tempos, desaparecido há mais de duzentos anos, suplantado pelo árabe. Que mundo novo aparecerá naquele pedaço do planeta, se eclodirem novas guerras no conturbado território? O EI não perdoa, nem admite derrota. Enquanto isso, os cristãos são simplesmente liquidados.

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