Hermanos da América

26/09/2016 às 19:54.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:59

Desejaria falar de letras, artes, cultura, mas o ambiente em que vivemos – ou sobrevivemos- não o permite. Não me perguntem porque. O país parou. Ou anda a solavancos, uma ingresia, como escreveu, dias atrás, o acadêmico Danilo Gomes. E a palavra é dicionarizada, significando confusão, barulho, ruído. Explica-se, portanto.

Fatos dos dias recentes são sintomáticos: Em Brasília, o deputado Expedito Neto (PSD-RO) convocou a artista plástica Tomie Ohtake para depor em uma CPI sobre Lei Rouanet. Apurou-se que ela tem 101 anos, mas está morta desde fevereiro de 2015; não podendo, pois, comparecer à Câmara dos Deputados, embora das mais beneficiadas com recursos de incentivos fiscais.

Em Senador Camará, zona oeste do Rio, Dilma Rousseff, participou de caminhada na campanha de Jandira Feghali, PC do B, à prefeitura da cidade. Repetiu a dose, no dia seguinte, na Cinelândia. Mais longe, em Nova York, Lula desabafou dizendo-se “indignado” e “triste” com a aceitação da denúncia de corrupção do Ministério Público Federal encaminhada ao juiz Sérgio Moro.

Também em Nova York, na sede da ONU, representantes de seis nações se abstiveram de ouvir o discurso de Michel Temer, na abertura dos trabalhos da Assembleia Geral da Organização. Assim procederam Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua e Costa Rica.

O Ministério do Exterior explicou que a ausência obedecia a “nossa dúvida” de que se quereria dar lições sobre “práticas democráticas”. Enquanto o costarriquenho falava, o vulcão Turrialba despejava cinzas de até 4 mil metros de altitude na região.

Da Bolívia, nem se fala. Lembraria apenas a violência de seu governo, ao determinar a invasão de propriedades da Petrobrás, de valor altíssimo, sem a mínima razão. O Brasil, principal comprador do gás boliviano, de quem recebe vários tipos de ajuda, inclusive no campo da educação e formação profissional.

Nos 71 anos da ONU, tampouco se esquece o comentário do ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, há exatamente dez anos. Um dia depois do discurso do presidente George W. Bush, dos Estados Unidos, disse ele: “Ontem, o diabo esteve aqui, neste mesmo lugar. Ainda tem cheiro de enxofre nesta mesa”. Sete anos após, o próprio Chávez morreu de câncer (não se sabe se provocado tardiamente pelo letal odor deixado na ONU por Bush), em Cuba, dispensando o tratamento no Brasil.

Quem não pode criticar as demais nações latino-americanas é exatamente a Venezuela, que detém o recorde de mais de um século sob regime de caudilhos. Quem não se lembrará, por exemplo, de Juan Vicente Gómez, o tirano dos Andes, que permaneceu no poder 27 anos, de 1908 a 1935?

Nesse período, segundo Carlos Taquari, autor conceituado, milhares de pessoas foram coagidas a fugir do país ou foram presas, morrendo em sessões de tortura, por fome ou doenças. No período, houve seis constituições, redigidas de modo a garantir a perpetuação do regime.

O próprio Simón Bolívar, herói nacional, morreu pobre, isolado e tuberculoso, numa fazenda em santa Rita, Colômbia. Era 17 de dezembro de 1830 e ele tinha 47 anos.

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