Maíra chega à Academia

26/11/2016 às 12:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:49

Houve por bem a Universidade Livre da Academia Mineira de Letras programar uma sessão especial para homenagear Darcy Ribeiro, na noite de 9 de novembro último. O projeto, valiosa contribuição ao meio cultural de Belo Horizonte, partiu do acadêmico Rogério Faria Tavares, ao ensejo dos 40 anos de publicação de “Maíra”, romance do autor mineiro.

Para conferência sobre o tema, foi convidado Petrônio Braz, polivalente no ofício de viver e escrever – agrimensor, advogado, jurista, romancista, articulista, professor e poeta. Autor de várias obras no campo de Direito, e exerceu importantes cargos públicos na região em que nasceu (ele é de São Francisco, à margem do rio), credenciando-o ao título de cidadão honorário de muitos municípios por reconhecidos serviços.

Sua exposição sobre Darcy Ribeiro atraiu ao Auditório Vivaldi Moreira, da AML, escritores de diversos municípios, inclusive diretores da Academia. Comentou que, embora nascido em 1922, Darcy parece ter-se identificado com os habitantes primitivos da terra, com os índios das tribos que aqui existiam, senhoras das terras do Grande Sertão adotado depois por Guimarães Rosa.

Referindo-se aos importantes cargos que exerceu como fundador e reitor da Universidade de Brasília, Ministro da Educação, chefe da Casa Civil da Presidência da República, Petrônio viu em Darcy o idealista, seu gosto pelo magistério, a que imprimiu marcas de seu pensamento e personalidade.

Traçando a biografia do homenageado, Petrônio Braz lembrou seu tempo em Montes Claros, a infância e a adolescência. Recordou um dos momentos mais importantes de sua carreira, quando recebeu diploma em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo em 1946, especializando-se em Antropologia; sua admissão como etnólogo no Serviço de Proteção ao Índio e a fundação do Museu do Índio e do Parque Indígena do Xingu. Além de vice-governador do Rio de Janeiro, foi senador da República e membro da Academia Brasileira de Letras. 

Darcy se encantou há 20 anos, em 17 de fevereiro de 1997. Zuenir Ventura comentou: “morreu o grande pagé, foi embora o nosso bom selvagem, subiu aos céus o nosso feiticeiro. A utopia ficou sem sua encarnação. A política, a ética, a erótica e a poética perderam sua rima rica”.

O conferencista sublinhou que o livro se acha esgotado e raramente se encontra num canto de prateleira de livraria ou em algum sebo. Dele se fala muito, mas se lê pouco. O próprio autor, contudo, se explica: “o esquema de ‘Maíra’, em suas linhas gerais, já o definia como um romance da dor e do gozo de ser índio. Retomando, ali, minhas memórias, consegui encarnar, dar vida ao drama de Avá, uma espécie de índio-santo sofredor, na sua luta impossível para mudar de couro, deixando de ser um sacerdote cristão para voltar a sua identidade original (...) Só fui completá-lo em 1974/75, para sair da tensão em que me afundei depois da operação de câncer. Suponho até que foi naquela experiência de ver a morte cara a cara, minha morte, como uma possibilidade real e concreta, que desatou as peias e deu a coragem de expressar-me calmamente como se requer de um romancista”. 

Mas Petrônio dispunha de apenas 55 minutos para sua dissertação. O espaço era extremamente curto.

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