Na hora da transformação

02/12/2016 às 20:24.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:55

Então, a situação em Cuba era paradisíaca antes dos Castros? Esta a pergunta que se faria depois de dois comentários aqui publicados sobre a Cuba anterior ao comunismo. Não era assim, nunca foi. Tiranos sempre existiram na América Latina, na ilha os houve também. Contra isso foi à luta de Jose Martí, o herói da independência. 

Considero valioso o depoimento do diplomata Vasco Leitão da Cunha, embaixador do Brasil, respondendo perguntas da Fundação Getúlio Vargas – uma delas: “O senhor conheceu Havana em dois momentos muito diferentes: em 1940 e em 1956. Havia um contraste grande?”.

O diplomata respondeu que sim, sendo melhor se ver e constatar a realidade: “Havana era uma cidade muito bonita, de vida cara porque si, como dizia o embaixador da Espanha: “La vida en Cuba es cara porque si! 

Era uma vida de grande luxo. Os diplomatas estrangeiros que não tivessem fortuna pessoal eram mais modestos. Havia um prateiro que me dizia: “O cubano procura mais peças de ouro do que de prata. Eu, como sou um homem modesto, não abuso, porque eles nem perguntam o preço. A moeda tinha o mesmo valor do dólar. Você dava uma nota de um dólar e recebia o troco em cubanos”. 

Sobre aquela época, vale acrescentar: “ Cuba era próspera, tinha 15% de população pobre, mas não havia a miséria que existe no Nordeste brasileiro. O meu jardineiro tinha a casa dele, a cozinheira tinha duas casas e alugava uma, o cnauffeur tinha a sua casa”.

“A população rural não era miserável. Era muito bem paga, os açucareiros pagavam bem. Esse negócio de pobreza franciscana dos cubanos é mítico”. Mais adiante, declarou o embaixador Leitão da Cunha: “Diziam os cubanos- não quero citar isso como uma verdade histórica, mas apenas dizer que fazem essa referência – que os presidentes de Cuba, com exceção do primeiro, dr. Estrada Palma, eram todos corruptos. O presidente da República tinha comissão na fixação do preço do açúcar! Não é possível um chefe de Estado ter comissão, isso não era aceito. Os senadores governistas tinham uma participação, digamos, de 30% e, os oposicionistas de 10%! Como diz o francês: que país é este?”

A II Grande Guerra ajudara Batista, após o colapso da produção açucareira a Ásia e Europa. Cuba ganhou um alento inesperado. A colheita de açúcar passou de 2,7 milhões para 5,2 milhões de toneladas de 1940 a 1944. E o valor da produção subiu para U$251 milhões. Foram anos abençoados para o governo Batista. O alto preço do açúcar e o prolongado período de paz social, com apoio do partido Comunista e do movimento sindical, deram ao país uma memória popular positiva, como afirmou Richard Gott, o historiador inglês.

Começa o declínio, por injunções múltiplas. Para o diplomata, o clima social estava muito carregado na ilha em final dos anos 50, muito tenso. Na metade do século, Cuba sofria uma crise sistêmica – política e econômica. Novos atores começavam a despontar, um dos quais Fidel Castro. Os oficiais militares de patentes inferiores se arregimentavam contra a corrupção e o gangsterismo, com o estilo de vida de ostentação dos seus superiores. 
Era o prenúncio de uma nova era, que as atuais gerações conhecem sob vários ângulos.

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