Nem tudo se perdeu: a poesia sobrevive

26/06/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:13

Ângela Vaz Leão publicou, este ano, “Relendo a poesia de Yeda Prates Bernis”. O simples fato de merecer um estudo da professora vale como atestado da importância da criação da poetisa, que acaba de ingressar numa idade – 90 anos – que muitos desejariam alcançar, principalmente em plena capacidade de produção.

Mineira de Belo Horizonte, diplomada em Letras Neolatinas pela PUC-MG, cursou canto e piano no Conservatório Mineiro de Música da UFMG (foi, aliás, uma das integrantes do Madrigal Renascentista em suas primícias). Distinguida numerosas vezes com condecorações e prêmios, inclusive da AML, da Ordem do Cedro, do Líbano, e mais recentemente com o Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, Yeda é membro da Academia Mineira de Letas, infatigável e presente a todos os atos a que é convidada, dentre outras entidades na União Brasileira de Escritores.

Merecer 60 páginas de análise e crítica de sua criação poética da professora Ângela Vaz Leão, emérita da UFMG e titular aposentada do Programa de Pós-Graduação em Letras pela PUC-Minas, vale como premiação adicional. A querida mestra permanece atuante e brilhante, inclusive coordenando na Católica uma pesquisa sobre “Cantigas de Santa Maria, de Afonso X”, na pós-graduação em Letras.

De 1967, quando Yeda publicou sua primeira coletânea até agora, foi uma dúzia de livros. A leitura dos doze “despertou em mim – diz a professora –, além da admiração pela beleza de seus versos, o desejo de escrever um trabalho que desse aos possíveis leitores não familiarizados com a poesia de Yeda uma ideia, ainda que superficial, do conjunto de sua obra”.

Ângela faz uma excelente exposição do que é a produção de Yeda “sua bela voz poética”, nas 60 páginas do volume recém-editado. E é altamente precioso medir a relevância da obra da poetisa através de cuidadoso e competente trabalho de análise e comentário. 

Segundo declara a professora Ângela, o “propósito seria despertar naqueles possíveis leitores amantes de poesia um certo gosto, ou pelo menos uma certa curiosidade em torno da obra dessa grande poetisa mineira”. Verifique-se o adjetivo: “grande”, juízo que resulta da leitura e releitura de toda a obra poética, até o mais recente, “Cercanias”, de 2016.

A mestra acompanha a poetisa em sua vida através de sua criação, sendo oportuno lembrar seus versos em francês, numa prova de amor pela língua de Racine e Baudelaire, e em homenagem a Jean Sablon. É uma volta à infância e a Paris, o Rio Sena e ao ar da capital francesa. 

Um encontro feliz entre a poetisa e a crítica, um regalo de bom gosto ao leitor a quem apraz o belo. Mas há ainda lições como em Sabedoria, em “Entresomobras”: “O sol a lua as estrelas/as montanhas as colinas/ a orquídea a rosa a camélia/o jardim a gota d’água/ – quietude zen – /aprenderam desde sempre/ e mais que os homens/ a eloquência do silêncio”. E eu me calo.

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