O aniversário de Fidel

18/08/2017 às 18:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:09

Percorri todos os meios de comunicação disponíveis. Não encontrei a mínima referência a que, no dia 13 de agosto de 2017, Fidel Castro completaria 91 anos. O líder da Revolução Cubana confessara, em 2011, que nunca pensara “viver tanto”. Na ocasião, também disse: “Em breve, serei como os outros. A vez chega para todos”. E chegou.

Daqui dois anos, completam-se seis décadas de sua entrada triunfal em Havana, barbudo e à frente de doze mil outros barbudos, que tinham derrotado um exército de 80 mil homens. Em meio ao silêncio de agora, não se negará seu impressionante papel no século passado. Vitorioso em sua pátria, apoiou guerrilhas na Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Uruguai e Venezuela, além da África. Exerceu influência no Brasil e não poucos seguiram seu catecismo.

A revolução de Fidel “provocou (...) vontade de lutar, de ir para a montanha, empunhar um fuzil para tentar mudar as coisas”, disse Iván Marquez, outrora o número dois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farcs. Mas também no vizinho país, os rebeldes depuseram, bem recentemente, as armas após décadas de luta.

Li, não sei onde, que – em um país no qual o cristianismo se mistura aos cultos africanos – os cubanos atribuíam a Fidel a proteção do orixá/Obalalá, o deus todo poderoso. Tudo mudou, contudo. Muitos planos do período mais aceso da revolução falharam, como a criação de búfalos e a produção de queijos de qualidade, quando faltavam vacas na Ilha. Guantánamo segue território de Tio Sam, embora a prisão, quase vazia, lá permanece. ‘O que virá depois?’, mantém-se a pergunta, principalmente por se saber que Raúl, que sucedeu ao irmão no comando nacional, também deixará o governo em 2018. Esta a promessa.

Alina Fernández, a filha rebelde de Fidel, contou em livro que ele nasceu pela madrugada, sob o signo de Leão. Após consulta às estrelas, a mãe se ajoelhou, beijou a terra e disse: “Este é o único dos filhos que vai ser alguma coisa na vida”. Não foi batizado porque “era filho natural e nasceu bastardo”. O menino Fidel, junto com os irmãos mais velhos, viveu suas primeiras noites no barraco de palha ao Norte da fazenda em que sua avó Dominga e a mãe invocavam os espíritos protetores com uma vela em uma mão e um copo de água na outra, entoando ladainhas intermináveis.

Ao terminar, em 1998, o prefácio de seu livro, Alina registrou: “O que será de Cuba? Esta é a pergunta que me faço diariamente e para a qual ainda não há resposta”. Tanto tempo decorrido, morto Fidel, com novo e duvidoso presidente nos Estados Unidos, alonga-se a dúvida, mais cruel talvez porque Raúl deixará a liderança proximamente. O historiador inglês Richard Gott, mais tranquilo, opina: “Quando (Fidel) morrer, haverá pouca mudança em Cuba. Enquanto pouca gente via, a mudança já ocorreu”. Aqui, Stefan Salej observou: “Fidel fez história e não há como não se reconhecer isso. O que não quer dizer que ela é tão bonita e charmosa ou tão boa para o povo cubano, como foram os sonhos, o charme e esperança de tempos melhores que emanavam em 1959, quando tudo começou em Sierra Maestra”.

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